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Opinião
04/07/2016 16h35

Diálogo dos Livros

Por Anderson Santos*

Misteriosamente durante a noite os livros da biblioteca conversavam entre si. Eles esperavam o momento oportuno e iniciavam o diálogo. Afinal, não se podia comunicar durante o dia devido ao movimento do ambiente.

Os assuntos cotidianos, desde piadas, críticas, política, futebol, música, enfim, eram mencionados no curioso diálogo.
Num dado dia, o assunto foi diferente. O livro de matemática reclamou que há anos estava cheio de poeira e ninguém sequer o pegava para folhear. O de português interrompeu e disse:

- Mas o seu conteúdo é muito confuso!
- Olha quem fala! - Indagou o livro de matemática.
- O meu conteúdo é imprescindível para a vida toda. E por não me considerarem, muitos não sabem calcular o próprio salário, o consumo de combustível do carro, comissões de vendas, etc.
- Agora, você também não fica muito atrás não eim?! – Prosseguiu o de matemática:
- São mais de 500.000 redações zeradas no Enem todos os anos. Sabe por quê? Porque esta sua gramática é mais confusa do que o cálculo do superávit.
- Não senhor – disse o livro de português. É que ao invés de ensinarem os alunos a ler e escrever perfeitamente desde a infância, resolveram primeiro adotar o modelo de educação sócio-construtivista, ou seja, atropelaram a própria língua! O resultado foi esse aí...
Nesse momento o livro de geopolítica entra na conversa:
- Gente, o pior é que uma parcela ínfima da população consegue visualizar este cenário. É claro, afinal, não me consultam também. Estou aqui há quase 7 anos atulhado de fungos.

O livro de biologia interrompe dizendo:
- Se ao menos muitos soubessem o que são os fungos...

O livro de história que até então estava calado também lamentou a sua situação:
- Já ouvi aquela música chamada “O caderno”. Parece que foi feita para mim, ou melhor, para nós. Infelizmente muitos ainda não entendem que é necessário conhecer os acontecimentos passados para remontar a história a fim de compreender o presente, pois o que se passa atualmente é espelho do que antes ocorreu. Simples assim...

O livro de filosofia também não se calou:
- Concordo com você amigo, eu também sou bastante útil no que diz respeito à compreensão dos fatos, mas me ignoram completamente me trocando pelos livros de autoajuda ou esoterismo ou quando não o fazem, é porque se viciaram em internet.
Nesse momento os livros ouviram um barulho vindo da porta da biblioteca. O de sociologia falou:
- Pessoal, falem mais baixo porque alguém pode nos ouvir e acabar nos roubando.
- O que? Quer dizer que alguém vai por as mãos em mim?! - Gritou de felicidade o livro de matemática.
Porém, infelizmente não se tratava disso. Eram dois ladrões.
Invadindo a biblioteca, eles procuravam dinheiro, mas nada encontraram (obviamente). Então um deles disse:
- Olha quantos livros! Vamos pegar?

O comparsa o repreendeu dizendo:
- Isso não serve pra nada rapaz! Deixa isso de lado e vamos roubar as prateleiras!

E assim segue o Brasil com um fenômeno não raro: a depressão dos livros...

*Anderson Santos - Educador, palestrante, escritor, formado em Filosofia, Meio Ambiente e Teologia. Varginha (MG)

E-mail: adalcin026@gmail.com

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