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Opinião
03/12/2015 16h36

Dos 13000 queijos da Canastra

Stefan Salej

Por Stefan Salej*

 

Seu Onésio, produtor de queijo artesanal  da Serra de Canastra, explicava com mineirice e tranquilidade como fazia esse queijo. Mostrou ao lado da filha, também fazendeira, como produz queijo, a mulher também ajuda, e como cuida das vacas para ter a qualidade de leite para produzir o queijo de que precisa. João Leite, Presidente da Associação dos Produtores de queijo Canastra, foi entusiasticamente  aplaudindo por mais de 300 pessoas no auditório em Piumhi, o conterrâneo de São Roque de Minas. Afinal das contas, conseguiram, com ajuda de técnicos de SEBRAE, não só o registro da marca Canastra, como também a certificação para vender o queijo fora de Minas . E mais: pela primeira vez na história, o queijo  brasileiro ganhou numa exposição na França o segundo lugar.  Mais uma medalha para brilhar junto  com o nosso orgulho nacional.

Mas, toda medalha tem duas faces.

Quase simultaneamente ao evento de Piumhi, os fiscais do  glorioso Estado de Minas, apoiados por forças policiais estaduais e federais, apreenderam na cidade de São Roque de Minas13000 queijos. Os queijos foram apreendidos e enterrados. A apreensão foi feita, segundo o jornal o Estado de São Paulo, porque transportava o produto sem a correspondente Nota fiscal.

Esta é a outra face da  mesma medalha.

Feliz o estado que tem um governo preocupado com evasão fiscal, a qualidade de produtos e o bem-estar dos cidadãos que produzem. Esse é o Estado de Minas. Felicidade total para os órgãos do Estado. Aliás, ninguém deve ter contado todos os queijos tão rapidamente enterrados porque algum pode ter, mesmo sem a respectiva nota fiscal, escapado para a mesa dos seqüestradores de queijos.

Se tirarmos da próxima pergunta o SEBRAE, que é uma agência de desenvolvimento de pequenas empresas  financiada pelo setor privado, a pergunta que se pode fazer é o que os órgãos do estado fizeram para ajudar os 1300 produtores do queijo? Com muito orgulho os enquadraram em todas as regras que criaram, sejam elas federais ou estaduais, para que não sejam competitivos e muito menos que ganhem mercado. Ajudar mesmo, ninguém.

Em uma hora em que cai o emprego, o investimento, e a fé de que produzir vale a pena, um punhado de burocratas desalmados, em vez de dialogar com os produtores, que às vezes podem estar até errados, os castigam. O fato é que o estado não encontra meios para ajudar a quem batalha de sol a sol, labuta e inventa. Além do mais, se a principal preocupação dos fiscais do estado é  enquadrar os produtores de queijos, ficamos felizes porque imagine, enquanto enterravam os queijos, o que acontecia nas outras bandas. Imagine só.  Nada.

 

*Stefan Salej - Ex Presidente da FIEM e SEBRAE /MG, Consultor internacional

 

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