Na infância, conheci vários locais chamados de cassinos mas que já não funcionavam como tal. Aqueles que porventura existiam, eram clandestinos, devido ao fechamento dos mesmos, feito pelo Presidente Dutra em 1946. Até hoje se discute se devem ou não ser reabertos, pelo menos nas estâncias e cidades turísticas, como um fator a mais para incrementar o turismo.
Havia o Cassino Excelsior, na D. Pedro II e aquele do qual mais me recordo o Cassino Brasil, que ficava onde hoje está o Calçadão, do lado esquerdo de quem caminha para o Parque das Águas e ao lado do Hotel (e Cassino!) Metrópole.
Era um prédio antigo de construção bonita, em cores que pareciam de um tom acinzentado. Havia uma escadaria com cerca de cinco degraus, depois um espaço onde se caminhava para as lojas lá instaladas, umas dez, talvez. Na escada, vez por outra, estavam alguns camelôs, vendendo seus produtos. Em alguma época o prédio serviu também como a rodoviária que não tínhamos. Lembro-me das Empresas Eva e Pássaro Marrom, fazendo as linhas para o Rio. Na primeira, os ônibus tinham uma cor em que predominava o amarelo e na segunda, eram marrons. Hoje são vermelhos e os da Eva não existem. Tenho fotografias tiradas em frente ao Cassino, por meus pais quando foram despedir-se de um primo que embarcava para o Rio, por volta de 1953. Aliás, em duas delas, estou eu também. Era este o prédio que todos se acostumaram a chamar apenas de Cassino. Mesmo com o fim do jogo, o nome fora mantido. Foi parte importante de minha infância. Costumava andar sempre por toda a Rua Wenceslau Braz.
Em frente à loja, existiam quatro casinhas iguais. Delas, podia-se avistar o prédio do Cassino, que era do outro lado da rua, como já disse. De onde morávamos, não víamos, estávamos do mesmo lado.
Era o dia 26 de janeiro de 1956. Eu estava prestes a completar nove anos de idade. De repente, vi diversas pessoas agitadas, assustadas, gritando espantadas, do outro lado. Apontavam lá para baixo, para o outro lado da rua. Uma das vizinhas da frente chamou meu pai, que ainda sem entender nada, atravessou rapidamente a rua e de lá, começou a gritar, junto com outras pessoas:
–Está pegando fogo no Cassino!
–Está pegando fogo no Cassino!
Foi um entardecer de agitação, para nossa pequena e singela cidade de então. O povo todo passou a noite olhando aquela triste cena e as tentativas frustradas de salvar-se ao menos em parte o prédio antigo que estava sendo destruído pelas chamas. Era uma época de chuvas, como costuma ser o mês de janeiro. Nosso ribeirão estava cheio e aproveitaram para sugar um pouco daquela água e tentar apagar o fogo. Quantos voluntários vi jogando baldes de água, na maior boa vontade e inocência, pensando que conseguiriam salvar alguma coisa. O principal trabalho foi, também, impedir que as chamas se alastrassem para o Hotel Metrópole. Felizmente, conseguiram.
Nunca se viu tamanha boa vontade e esforço, por parte de pessoas amadoras e que nada tinham a ver com um Corpo de Bombeiros. Até hoje as marcas daquela noite estão bem fortes em minha memória.
Os pobres comerciantes que lá estavam estabelecidos perderam grande parte de sua mercadoria. O prejuízo foi enorme.
Sem dúvida, foi, até aquela data, a maior tragédia e o mais triste acontecimento em São Lourenço. Em 31 de dezembro do ano seguinte, teríamos a explosão da Fábrica de Fogos, considerada a maior de todas. Antes do advento da enchente de 2000, na qual, felizmente, não tivemos vítimas fatais.