por Fátima Garcia Passos,
mestre em Filosofia
Henry E. Allison em “Kant’s theory of freedom” coloca que quando Emmanuel Kant enfatiza que o homem ao agir por impulsos sensíveis e interesseiros não é livre, mas escravo do próprio individualismo, agindo de forma irracional, portanto por “arbitrium brutum” não levando em conta o outro mas, só a si mesmo, age como criança ou um louco. De fato há três características que permeiam o agir de uma criança. A primeira é querer ser amada incondicionalmente, a segunda é querer ser satisfeita em todas as suas necessidades e a terceira é querer manipular o outro para ser satisfeita. E a pergunta que se faz é: Quantos de nós ainda assim agimos?
A família da Idade Moderna privilegiou a criança como uma majestade, Freud assim a definia, tudo estava voltado para ela, a mãe, a Escola, a medicina. A mulher que ao papel de mãe não se adequava era taxada como histérica. Eis porque surge nesta época no campo médico: a psiquiatria, a ginecologia, a obstetrícia e a pediatria. Surgem também pedagogos que disponibilizam novos métodos de ensino. A educação classificada pelos sociólogos como primária era dada em casa e a secundária na Escola. A criança deveria ser preparada para liderar a sociedade burguesa e industrial da época.Todavia os tempos mudaram e na época pós-moderna, a mulher não mais se contenta com o papel de genitora e esposa. E a pergunta que se faz é: E as crianças?
Relegadas a berçários maternais, creches e Escolas dos mais variados tipos as crianças deixaram de ser a referencia principal. Empanturradas de presentes por conta do remorso de seus pais estas crianças burguesas tanto quanto as das classes menos privilegiadas estão sós e sem apoio, desenvolvendo por conta disto uma série de patologias tais como: depressão, ansiedade, pânico e etc. Mas não há como voltar atrás, as mulheres precisam continuar sua escalada de crescimento profissional bem como ajudar seus maridos quando os têm, porque o consumismo é a lei capitalista que a todos impele, a fim de que se tornem pessoas. Esta é a loucura pós-moderna.
Para Kant o homem livre age tangido pelo “dever ser”, sob a égide da liberdade transcendental, que a tudo transcende por não guiar-se por estímulos empíricos mas, por leis à priori contidas em nossa razão e que nos leva primeiro a cumprir com nossos deveres, custe o que custar e segundo agir como se o que fizéssemos pudesse servir um dia de lei universal. É o “arbitrium liberum” que vê o outro e a si mesmo como fim em si mesmo e não como meio para outro fim. Seremos capazes de algum dia assim agir? Assim fazendo seremos realmente livres, pois a liberdade é racional, transcendental e, portanto prática. Ela nos liga a algo que nos transcende e que está fora do tempo e do espaço, é o numenum de que falava Kant, que por ser universal tornam-se partículas de racionalidade em cada um de nós. Então e só assim nos libertaremos do caos que a todos acicatam e enlouquece, nos ateremos às leis universais em nós inscritas e atingiremos a ordem interna e externa que tanto almejamos.