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Opinião
26/11/2012 09h29

Mergulha, pisciano!

Nos arredores de Varginha os Irmãos Maristas do Colégio Coração de Jesus, possuíam uma chácara. Hoje, é o Bairro Jardim Andere2,  praticamente no centro da cidade. Lá costumavam levar os alunos para passear, em geral nas tardes de sábado. Naquele tempo, parecia estar num local muito distante do colégio, situado na região central.  

Em frente ao prédio do colégio, onde morávamos como internos, existe até hoje o Varginha Tênis Clube (VTC). Quase todas as tardes, devido a um convênio firmado com o clube, o Irmão regente levava-nos para freqüentar a piscina do clube. Só que, como não sabia nadar eu  participava de outra atividade ou  ficava sem fazer nada. A meu ver, apesar de todo aquele frio e aquela água fria, deveria ter havido um empenho maior para que os que não soubessem nadar, aprendessem. .

Meu sonho sempre foi aprender a nadar. Sempre achei a água uma coisa bonita, principalmente de piscina. Programei até que, um dia, teria uma casa com piscina. Aí, enfim, aprenderia a nadar.  Quanto à casa acabou satisfeita minha vontade com os anos. Não foi à toa que nasci pisciano.                                                                            

Sábado, 27 de agosto de 1960, mais uma vez o caminhão do colégio veio, logo após o almoço. Apanhou os alunos que estavam interessados em ir até a chácara. Íamos sob a supervisão de um ou mais dos religiosos. E eu estava entre eles. Sentávamo-nos naqueles bancos de madeira na carroceria, como viajam os bóias-frias.  

Depois de muitas brincadeiras e aventuras naquele bonito local, chegou-se, em determinado momento a um ponto onde deveríamos atravessar um rio de margens muito altas. Assim não teríamos que dar uma volta imensa até chegar do outro lado. A solução estudada e encontrada, para que todos atravessassem naquele ponto, foi colocar um tronco de pinheiro entre as duas margens. Em cada margem, ficaria uma pessoa segurando a ponta de uma corda. Nós iríamos atravessando, um por um, andando no tronco e segurando na corda.

Hoje, não tenho certeza de que eram margens muito altas ou se minha mente de criança ou meu tamanho ainda relativamente pequeno as enxergavam assim.   

Quando chegou minha vez, já no meio do tronco, resolvi olhar lá para baixo.

Distraí-me, assustei-me e desequilibrei-me. No entanto, mesmo caindo do tronco, não soltei as mãos da corda. Quem as soltou foi um dos que estavam segurando nas pontas.

Ou seja, ele não cumpriu com seu papel, talvez assustado pelo inesperado acontecimento. E lá fui , sem saber nadar, para dentro do rio... Mas estava tão assustado que continuava agarrado ao meu pedaço de corda...                            

Correram todos e conseguiram salvar-me. Que susto!

Voltei para o colégio completamente traumatizado. Nos meus treze anos de vida, nunca vira e sentira a morte  tão de perto. Nem nas duas vezes em que vi um revólver apontado em minha direção. À noite, aquela cena não me saía da mente e assim ocorreu por muitas outras noites.

Desde então, não obstante todas as minhas tentativas, nunca mais consegui enfiar minha cabeça dentro da água de qualquer piscina (nem mesmo naquela  construída em minha casa, com o fim de aprender a nadar) ou do mar.

Assim, foram por água abaixo todos os sonhos de minha infância, de um dia tornar-me um grande nadador. Ou seja, os sonhos mergulharam, mas a cabeça, nunca mais mergulhou...


Autor: Felipe Nacle Gannam

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