03:34hs
Sexta Feira, 22 de Novembro de 2024

Leia nossas últimas edições

Leia agora o Correio do Papagaio - Edição 1897
Opinião
04/04/2013 18h16

Na paz, as amoras verdadeiras (parte 1)

Aires fala sobre paz e as amoras

Sem que nos atrevêssemos a caminhar até a boca do túnel da divisa entre os estados de Minas Gerais e São Paulo, no alto da Serra da Mantiqueira, vertente sul, local hoje denominado de Coronel Juvêncio, de tristes lembranças bélicas, que foi palco de acirradas e sangrentas batalhas na revolução de 1932, lá estávamos a descortinar belíssimas paisagens à plataforma da pequena e conservada estação férrea, enquanto a Maria Fumaça 332 iniciava a manobra de retorno à cidade de Passa Quatro e um grande número de turistas pelos trilhos caminhava em direção ao túnel, levados pela curiosidade a arriscar-se em meio à traiçoeira vegetação rastejante sobre poças de águas estagnadas pontilhando a desconhecida trilha do percurso.

De súbito, quando adquiríamos de uma menina cestinhas com amoras, um casal se chega com o senhor a nos solicitar informações sobre a localidade, vez que segundo seu saudoso pai, fora aqui que tenazmente lutou, ou melhor, degladiou-se contra os insurgentes paulistas, que do outro lado do túnel, impossibilitados de atravessarem dado ao entrincheiramento das tropas mineiras, se viam obrigados a se lançarem através da montanha, onde no topo, aguardavam a chegada da noite para descer em ataques quase suicidas na escuridão sobre as forças contrárias.  No início as incursões dos paulistas deu resultado, pois as baixas aos mineiros foram consideráveis, a ponto de montarem um hospital de campanha na estação, onde inclusive teve o Dr. Juscelino Kubistchek, médico, a atender aos feridos.  Segundo sua histórica narrativa, seu pai, na época um fazendeiro que havia abraçado a causa em defesa do governo alistando-se voluntariamente, teve um ato de bravura a conseguir depois de muito esforço, galopando um cavalo serra abaixo, saltar sobre o trem desgovernado cujo maquinista fora ferido quase mortalmente por tiros quando aqui chegava trazendo suprimentos como:  alimentos, munições, artefatos bélicos, remédios, camas entre outros.  Após efetuar a manobra na rotunda ali existente e engatar a locomotiva aos vagões a prepará-los, posicionando-os para descarregar, o maquinista foi alvejado.  Em consequência, abriu a chave do freio e o controle da pressão ao cair do banco desfalecido, ocasionando a movimentação do trem, que ajudado pelo declive natural passou a se deslocar.  Seu pai assustando-se com a saída repentina do veículo que iniciava o descarregamento, corre e pode ver o maquinista à cabine caído.  Apavorado, sem ter como alcançar o trem, vez que a velocidade aumentava cada vez mais, valeu-se de um cavalo que estava próximo e sobre o mesmo, em pelo, sem os arreios, apenas utilizando-se da corda que o amarrava como rédeas, sai em galope pela campina a morro abaixo na tentativa de cruzar com o trem, cujo leito serpenteava as montanhas e facilitaria  esse encontro.  De fato deu certo seu raciocínio e, emparelhando com a Maria Fumaça, em manobra arriscadíssima, como nos velhos filmes de faroeste, galgou a escada introduzindo-se à cabine onde, dado aos seus conhecimentos ferroviários, pois foi na juventude um auxiliar de maquinista ne E. F. Mogiana, conseguiu controlar a locomotiva.  De ré, depois de constatar que o homem ainda respirava, conduziu o comboio serra acima de volta ao aquartelamento das tropas onde, após saudado pelos chefes militares, levaram o ferido ao “hospital” e descarregaram os vagões.  Seu pai, Roberto Leite, teve como missão conduzir o trem de volta a Passa Quatro, o que fez, retornando posteriormente à frente de batalha juntando-se às tropas avançadas.  Quanto ao maquinista ferido, ainda recuperava-se e, de acordo com o Dr. Juscelino, iria ficar bem, retornando logo às suas atividades na ferrovia.

PUBLICIDADES
SIGA-NOS
CONTATO
Telefone: (35) 99965-4038
E-mail: comercial@correiodopapagaio.com.br