Um senhor que aquela manha, absorto talvez pela bucólica paisagem da estação férrea de São Lourenço, que à plataforma a tudo contemplava, a mim se aproxima a indagar-me sobre o aproveitamento dos velhos vagões que ali se encontravam. Prestando-lhes as devidas informações, pasmo ficou ao saber que em nosso complexo ferroviário os mesmos são reconstituídos e recuperados postos a entrar em trafego, e ficamos então a prosear.
Nisso, o trole que serve de auxiliar no transporte de dormentes dos tocos de madeira e outras utilidades, vem sendo empurrado por um funcionário conduzindo os tocos de eucalipto no abastecimento da locomotiva. Ao observá-lo, nota que o homem o deixa a atender o chamado de um colega. Seu Francelino como se deu a conhecer, virando-se a mim, diz que aquela atitude o fez lembrar-se de um episodio o qual teve a infelicidade de vivenciar, no que viajava no trem a caminho de Ouro Preto, que por pura sorte não causou uma enorme tragédia e pôs-se a narrá-lo.
Dizia que o comboio em velocidade normal seguia tranqüilamente, quando fomos surpreendidos por uma impactante frenagem, seguido de trancos e outros tantos impactos e ruídos agudos pelo atrito das rodas com os trilhos; nos que nos fez ir de encontro às poltronas a frente com a queda dos bagageiros de malas, sacolas e embrulhos em meio a maior confusão no vagão, para finalmente ouvirmos o som forte de algo ser colidido pela Maria-Fumaça; que obviamente veio a parar.
Assustados, deixamos o vagão, como outros passageiros dos demais carros fizeram e pudemos constatar que o acidente fora causado por um trole deixado a deriva em meio a curva,cujo o condutor e o auxiliar negligentemente os deixaram sobre os trilhos enquanto catavam os dormentes apodrecidos substituídos pela manutenção da linha.
Felizmente os desatentos e negligentes trabalhadores nada sofreram, pois mantinham-se distantes do local. Quanto à locomotiva apenas o salva-vidas ficou esfolado na pintura, com uma garra retorcida. O trole é que foi a “vitima” ao ser lançado longe todo destroçado. Porem, nos interiores dos vagões, a desordem e a confusão foram totais com algumas pessoas levemente feridas e muitos “galos” nas testas e cabeças. Sem contar com o foguista que teve um braço machucado ao ser atingido por um toco deslocado da carvoaria.
Repreendidos pelo maquinista e o chefe do trem, ambos foram presos e encaminhados a Ouro Preto, depois de constatar que se encontravam em total estado de embriaguez etílica.
Assim, Francelino, deu a sua colaboração com mais um episodio a juntar-se ao nosso acervo, no que pese viesse beirar um drama por possível tragédia, mas que felizmente foi transformado em tragicomédia pelos inconseqüentes e levianos pinguços, tendo como prova da embriaguez a garrafa de pinga ali encontrada, já que óbvio aquela é poça o bafômetro era uma quimera e o bafo talvez fosse uma prova circunstancial momentânea!