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Por Bebeto Andrade,
de Cruzília/MG
Não digo que fiquei chocado quando soube que um certo senhor, de altíssima responsabilidade, ia de madrugada à mansão de Roberto Marinho jogar sinuca. Roberto Marinho era simplesmente o dono das Organizações Globo, e quem ia traçar tacos com ele era nada mais nada menos que Dom Hélder Câmara, arcebispo emérito de Olinda e Recife e quatro vezes indicado para o Nobel da Paz. Tratava-se de um joguinho entre amigos, apesar das divergências políticas.
Em Cruzília, mais exatamente no bar do Hotel Central (olha o merchandising!), há uma mesa que nunca está vazia, pelo menos na parte da manhã. Ali se reúnem pessoas de várias tendências políticas, torcedores de times rivais, gente que gosta de ler, outros que adoram contar piada, enfim, um grupo que é quase uma sociedade secreta, com suas regras e rituais. E o incrível é que eles não bebem ou, se o fazem, é escondido.
São pais de família, a maioria com filhos e filhas já desempenhando um promissor papel na sociedade. Mas de uma coisa eles não abrem mão: de jogar um bom truco e, nos intervalos, contar uma prosa sadia nos banquinhos do jardim, de onde apreciam um pouco do tanto que já contribuíram para o engrandecimento da cidade de Cruzília, que eu ousaria chamar de família.
Há outros pontos de truco na cidade, todos com suas histórias, lendas e a mesma gente digna. O problema é que vou ao bar do Hotel Central quase todos os dias, e aquilo pra mim já se tornou uma tradição: a mesa cheia, até às onze da manhã, e a turma dando um exemplo de amizade e companheirismo. A todos eles (citar os nomes não caberia neste espaço), que neste momento devem estar de olho nos zapes e sete copas, deixo meus votos mais sinceros de feliz e próspero ano novo.
E, claro, aos meus 18 leitores, agradeço a fidelidade e prometo que no ano que vem vou continuar. Feliz 2014 a todos.
