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Opinião
19/12/2013 10h40

O Bom Velhinho

Bebeto Andrade

                             Por Bebeto Andrade

Em 1969, numa cidadezinha de Alagoas, houve uma polêmica de fazer tatu sair da toca. É que o prefeito do município, severo defensor da ditadura militar, quis proibir a presença de Papai Noel na cidade, já que o bom velhinho usava roupas vermelhas e o vermelho, como se sabe, é a cor símbolo do comunismo. O prefeito alegava ainda que Noel distribuía presentes para crianças pobres, e os pobres, como também se sabe, sempre foram o alvo preferido do comunismo internacional.

Na época muita gente riu do prefeito, antes de mais nada porque Papai Noel é figura ligada ao capitalismo, acusado por muitos de ser agente disfarçado do imperialismo norte-americano, na linguagem daqueles tempos. Chamado à razão, o prefeito reconsiderou sua patranha e permitiu que as imagens de Papai Noel circulassem livremente pela cidade; mas a notícia já havia se espalhado e acabou entrando para o folclore político nordestino.

Agora, em 2013, Papai Noel volta triunfante a Cruzília, de onde andou exilado por algum tempo. Sua ausência não foi motivada por nenhuma querela política ou ideológia, mas simplesmente pela falta de verba, que impediu a administração anterior de bancar a estadia do velho Noel entre nós. No ano passado, por exemplo, Papai Noel teve que se virar em casas de amigos e conhecidos, pois não lhe reservaram nem um quartinho de fundo na prefeitura ou no almoxarifado.

Neste ano, porém, a coisa mudou. A secretaria de cultura preparou uma casinha digna para o Papai Noel no coreto da praça Capitão Maciel, e ainda iluminou as árvores do local com aquelas luzinhas que ficam piscando sem parar. Quem agradece, claro, é a criançada, que antes da inauguração já estava rondando os aposentos de Noel com segundas e terceiras intenções.

Acho o caso digno de nota porque, no ano passado, cobras e lagartos foram lançados sobre a falta de decoração na cidade para os festejos natalinos e de fim de ano. Não que eu valorize muito esse tipo de coisa, mas a verdade é que, apesar de ser de esquerda e de achar que Papai Noel é um símbolo capitalista, não consigo nutrir antipatia pelo bom velhinho de barbas brancas.

Coisas da minha infância, talvez. Mas, lá no fundo, acredito que muita gente pensa como eu: deve ser muito triste e chato dizer a uma criança que Papai Noel não existe. Se ainda fosse o coelhinho da Páscoa...

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