Por Fátima Garcia Passos
Ao observarmos um mosaico vemos inúmeras pedras com cores variados e tamanhos diversos. Todavia no seu todo elas integram o grande mosaico ajudando a compor sua beleza e harmonia. Muitos são os que se indagam a cada instante do porque de sua existência. Por que não seguiram este ou aquele caminho? Só que depois do primeiro passo é muito difícil voltar atrás, o mais cômodo é seguir em frente. Mas será que este caminhar não seria o “thelos” da própria vida?
Ao compararmo-nos com o outro às vezes nos condenamos e às vezes nos endeusamos. Todas as vidas têm que ser necessariamente produtivas em termos econômicos, político-sociais? Qual é o “thelos” de cada vida? O que é o “thelos” senão a finalidade. Vida boa é a daquele que atinge a sua finalidade. O vento ao ventar poliniza e suaviza o clima, o coração ao bater bombeia sangue para todo corpo, o estômago digere os alimentos e etc. Tudo tem uma função, se estamos onde estamos é porque devemos estar. Mesmo assim implacáveis que somos medimos as pessoas pelas suas posses, oportunidades, afazeres. Como se tivéssemos o monopólio da verdade.
Um pequeno amor perfeito ajuda a compor a harmonia de um jardim tanto quanto um grande pé de manacá, se vê um jardim por partes, mas, na grande foto é o conjunto que conta. Estamos felizes com o que fazemos? Sentimo-nos harmonizados onde estamos? Sonhamos em melhorar o nosso trabalho ou lugar? Então este é o nosso lugar.
Aristóteles ao tratar da “Política” compara os cidadãos da cidade com marinheiros. Ambos fazem parte de uma comunidade. Cada qual exerce uma função a fim de que o barco não soçobre. A sua função ajuda o grande barco a seguir seguro frente às procelas da vida? Um simples prego pode valer muito ao enfrentar um vendaval.
Descobrir o “thelos” da própria vida equivale a encontrar o seu lugar. Na Odisséia de Homero o herói Ulysses, deixa seu local de origem e por dez anos navega por outras plagas. Depois de viver percalços e alegrias entende que deveria voltar para o seu devido lugar. Nem sempre no lugar de origem encontramos paz, mas, cobrança e discórdia. Mas contrário do vento que ao ventar, já está em harmonia com o todo, como a maré que beija a praia, o sapo que ama a lagoa e etc: o homem tem que encontrar esta harmonia no silêncio da própria alma. Paulatinamente conquistar o seu conforto interno e externo, o respeito de sua comunidade, seu lugar de produção e isto porque ao contrário da natureza seu processo de auto-construção, descoberta e aprendizado é contínuo
Imersos em um mundo capitalista que só valoriza o ser pelo seu poder de compra, internamente todos sabemos que o homem vale por si mesmo, independente de sua atividade ou produtividade, desde é claro, que esta não gere o caos e o desconforto para outras vidas. Encontrar o “thelos” é encontrar a “eudaimonia”, aquilo que não é meio para nada porque já é o máximo que se pode pretender. É vida que vale por ela mesma. Que esgota nela mesma sua razão de ser. É a vida que naquele instante nos completa porque é a razão de nosso viver, pois nos integra no mosaico do grande Ser.
Fátima Garcia Passos, Pós-graduada em Ciência da religião e Mestre em Filosofia