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Opinião
11/01/2011 16h54

O indelével em nós

O indelével em nós

por Fátima Garcia Passos, especialista em Ciência da Religião e Mestre em Filosofia

Acorrentados às exigências sociais muitos são os que se afligem em detrimento próprio esvaindo forças e energia em festas que se sucedem encontros que se repetem, relações que nada edificam e que só buscam promover egos vorazes de superficialidades. O que somos nós? Por que nos perdemos tanto ao longo dos séculos?

Cativos ao mundo das aparências poucos são aqueles que cultivam a paz, o equilíbrio, a verdadeira cultura, o verdadeiro saber. A maioria corre desesperada em um vai e vem que nada constrói, mas que a tudo corroem. Até quando agiremos não segundo os nossos anseios internos, mas sob o tacame das propagandas mercadológicas e das aparências sociais? Quando seremos nós mesmos, nos despindo das vestes que nos impõem o teatro social?

Ao buscarmos o brilho externo que se esvai em cada instante como uma onda que não se sustenta, repetimos a moda grega, as disputas olímpicas e as guerras externas, sempre visando os louros do herói imbatível que se eterniza pelas inúmeras vitórias. Referendamos as mesmas ansiedades de projeção romana, renascentista ou iluminista que historicamente acalentaram os povos.

Para Heráclito de Éfeso : o ser é e pode deixar de ser, pois um homem ao cruzar um rio ao fazê-lo pela segunda vez, assim como as águas do rio já não são as mesmas, ele também não o será. Este mobilismo que faz com que um ser de manhã esteja bem e a noite deprimido deve ser vencido por todos nós, pois como dizia Parmênides de Eleia: só aparentemente as coisas mudam no interior, contudo de cada mudança há o imutável, o imperecível e é neste que temos que nos ater.

Sócrates que tanto se importou com o viver social dizia: conheça-te a te mesmo. O personalismo, fruto da persona provisória que estampamos no social não nos deixa perceber o quanto somos escravos de nós mesmos, do quartenário asfixiante que nos enclausuram como o corpo físico, energético, emocional e mental concreto, estes que anseiam por méritos que lhe confirmem a existência, a importância que se dão, olvidando o “em si”, o que nunca morre a partícula divina que habita em todos nós, a essência perene onde se encontra a paz.

Quantos de nós nos atemos ao silêncio em busca desta tríade divina, este mental abstrato, crístico e atmico? Quando pararemos um dia de legar a terceiros a força contida que jaz em nós por direito divino e inafiançável? Quando pararemos de olhar para fora em busca de algo que se encontra em nós? Não precisamos de aplausos, somos luz e não o sabemos. Somos o verso do Uno. Este que essencialmente infinito se torna finito em cada um de nós. Essencialmente Uno torna-se existencialmente múltiplo e em nenhum de seus efeitos pode revelar-se total e exaustivamente. Todavia somos parte d’Ele ainda que muitos ainda não o saibam. Ele se encontra como um diamante encoberta no sacrário divino de cada um.

Mas o homem que não é pleniconsciente não é plenamente livre pois existencialmente atrela-se a interesses heterônomos que introjetados em seu âmago tornam-se subconscientes, subjetivos. E assim segue o homem pelos caminhos da vida, inconsciente e acorrentado a educação tacanha daqueles que ganham com sua miséria, com seu medo, com sua desdita. Preso a caverna que o mundo das aparências edificou, antiético e amoral não vê que só o homem verdadeiramente ético vive em sua existência humana a sua essência divina e isto independente de qualquer religião, partido, instituição a que esteja atrelado pois como Paulo, o apóstolo dos gentios dizia, ele pode dizer: já não sou eu quem falo, mas é Cristo que fala em mim.

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