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Opinião
05/09/2013 12h19

O jogo pelo poder pelo poder do jogo

José Luiz Ayres

por José Luiz Ayres

 

Em meio à tarde quando na cafeteira saboreava delicioso café na mesinha sobre a calçada, a curtir o vai-e-vem das pessoas na cidade de Caxambu, três senhoras na mesa ao lado deliciavam-se com seus chás em animada conversa.

Observando-as, notei que uma delas falava da sua adolescência, trazendo momentos os quais diziam respeito ao cassino, em que levada pelos pais, costumava curtir os suntuosos salões assistindo importantes artistas, belos shows e memoráveis noites dançantes ao som de grandes e famosas orquestras, onde o requinte prevalecia, mesmo sendo a cidade, no que pese uma importante estância hidromineral, um município interiorano na época sem a mínima infra-estrutura a atender um cassino daquele porte tão requintado. Para se chegar a Caxambu, só mesmo de trem, pois as estradas, digo caminhos, eram terríveis...

Havia na época, um convênio entre a ferrovia e o cassino, na formação de trens especiais partindo de Cruzeiro, só para atender à demanda de acordo com as reservas do hotel-cassino. Recordava-se, que os vagões especiais eram dotados de esmerado luxo. Possuía tapetes, cortinas, ambiente perfumado, moços impecavelmente trajados a servirem os passageiros, portas acochadas para eliminar ruídos, ventiladores, enfim pareciam vagões destinados a comitivas “imperiais”. Até a Maria Fumaça apresentava-se polida e o maquinista usava gravata! No carro restaurante sempre lotado, eram servidos cardápios franceses e italianos com atendimento aos vagões fretados. Recordando-se de um episódio, contou.

“Numa ocasião, o homem forte do Getúlio, Sr. Oswaldo Aranha, assessorado por seus asseclas, era passageiro do vagão onde nos encontrávamos. Claro que para meus pais, getulistas como confessou, a presença da ilustre e digna figura constituía-se no ponto máximo nas conversas de “pé de orelha” junto aos passageiros. Entretanto, aquela presença passou a causar certo problema no que concerne ao atendimento dispensado ao grupo, fazendo com que os demais passageiros começassem a se impacientar pela demora de seus pedidos feitos aos garçons. De repente como se não bastasse o falatório, em que a tonalidade de voz extrapolava nas medidas, talvez fosse o vinho o motivo, um senhor levantou-se e foi à direção do garçom a reclamar da demora do pedido solicitado ainda em Cruzeiro. O serviçal confuso tentou contemporizar a situação alegando ter ordens expressas em atender o Dr. Aranha. Um dos asseclas ouvindo o diálogo interveio e intimidou o reclamante com prisão ou ser obrigado a deixar o trem. Criou-se o impasse, pois os demais passageiros se insurgiram e o clima denso tomou conta do vagão onde o chefe do trem teve de intervir e com muita lábia e custo amenizou o início de furdúncio, em que o Sr. Aranha funcionou como apaziguador, político que era, dizendo que as despesas ali correriam por sua conta! Segundo souberam, o cassino é que arcou com as despesas e todos tiveram os pedidos imediatamente atendidos. O que ocorreu com o reforço de dois garçons.

Com a calma sendo estabelecida à medida que os pedidos iam chegando, o Sr. Aranha elevando a taça de vinho, fez um brinde em favor da paz reinante, desejando boa sorte no cassino e muito cuidado na ingestão das águas minerais, mesmo reconhecendo a qualidade, higiene e conforto dos toaletes do cassino e do hotel. Como adendo, pediu para não se esquecerem de verificar se os pinicos estariam dentro dos criados-mudos. “Afinal o abuso desmedido das águas poderia acarretar conseqüências aflitivas e o pinico seria de grande valia numa emergência.”

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