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Opinião
10/07/2014 08h50

O lado B

Bebeto Andrade

Por Bebeto Andrade,

de Cruzília/MG

 

Quem tem menos de 30, 40 anos, certamente não conheceu os velhos discos de vinil. O disco de vinil era uma chapa circular de plástico, de cor preta e de aproximadamente 30 centímetros de diâmetro. Antecessor dos atuais CDs, o disco de vinil registrava gravações de músicas que eram reproduzidas num toca-discos, aparelho dotado de uma agulha que vibrava ao entrar em contato com a matéria plástica. Essa vibração era transformada em sinal elétrico, que por sua vez era convertido em som audível e posteriormente amplificado. O disco de vinil era vendido como os atuais CDs, em casas especializadas. Os grandes artistas costumavam lançar um disco por ano, no qual reuniam de dez a quatorze canções, e geralmente as altas vendagens rendiam o “disco de ouro” e mais tarde o “disco de platina”. Ao contrário do CD normal, o disco de vinil apresentava dois lados, que o sujeito punha pra rodar conforme seu gosto ou preferência momentânea. Os lados do disco de vinil eram chamados de lado A e lado B, e é aqui que começa a crônica.

O lado A de um disco normalmente apresentava as composições que o artista julgava serem as melhores ou as mais agradáveis ao público, ou ainda aquelas que não atentavam contra a moral e os bons costumes. A cereja do bolo, ou seja, a música feita para arrebentar nas rádios, costumava ser a primeira ou a última do lado A, para facilitar a localização. Quando um compositor novato conseguia incluir uma canção no lado A de um disco de sucesso, estava feito: era a prova definitiva de competência.

Já o lado B era reservado para as canções de menor apelo popular, que só os verdadeiros fãs do compositor iriam ouvir. Talvez por isso, era no lado B que se encontravam verdadeiras pérolas musicais, que não faziam sucesso mas se tornavam obras-primas com o passar do tempo. Era lá também que os artistas gravavam suas experiências criativas, quase sempre músicas que desafiavam a mesmice e o lugar-comum, e onde se escondiam as letras mais ousadas e desbocadas. Como se vê, o lado B tinha dignidade e sempre se apresentava como provocação ao gosto popular médio.

Como os CDs modernos não têm lado B, acredito que os artistas perderam um ponto de referência. Não sei se me faço entender, mas acho que isso foi prejudicial à música popular brasileira. O que eu quero dizer é que há muita música por aí tratada com os paparicos e salamaleques de um lado A, mas deveria estar na última faixa do lado B de um disco obscuro. E sem nenhuma divulgação.

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