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Opinião
13/08/2010 12h07

O mar também traz histórias

O mar também traz histórias

Aproveitando o filão inesgotável que o Sr. Borges, por ser um verdadeiro acervo vivo de memoráveis histórias que vêm engrandecer mais ainda os anais da ferrovia (RMV), resolvi “explorá-lo”, extraindo de sua privilegiada memória, episódios dignos de serem contados. Assim sendo, recordamos, então, um fato que sem dúvida mereceu destaque, principalmente mostrando quanto de ingenuidade e lirismo aquela gente interiorana era dotada.


Contava o Sr. Borges, que por ser aquele ramal ferroviário o único que chegava ao litoral através da cidade fluminense de Angra dos Reis, portanto era ele que conduzia os sul mineiros a conhecerem o mar de forma mais rápida e barata, tornava-se prática comum aos passageiros, mormente os deslumbrados, a trazerem entre suas bagagens e suvenir, garrafas e garrafões contendo água do mar. O que era o inverso dos que de Minas procediam a transportar água mineral e água ardente. Esse hábito de trazer água do mar, mesmo sendo de certa forma estranho, afinal não é um líquido potável e não tem qualquer serventia, seu Borges, curioso por querer saber o motivo, aproveitou uma oportunidade quando houve um entrevero entre dois usuários, em que a causa deveu-se à quebra de uma dessas garrafas, para matar a curiosidade.


Como apaziguador conhecido, foi solicitado pelo chefe do trem a tentar acalmar um bate-boca que acontecia e indagou do “prejudicado” o porquê da revolta por ter sua garrafa perdida. Ainda um tanto possesso, o simplório homem revelou que seria para mostrar aos amigos da cidade que conhecia o mar e aquela era a prova disso. Seria o mesmo que matar a cobra e mostrar o pau. Sorrindo, procurando mostrar imparcialidade, embora sua curiosidade tivesse sido revelada e, óbvio, causado certo humor tal a ingenuidade, procurou acalmá-lo, dizendo que colocasse numa garrafa água comum e adicionasse sal. O homem, surpreso com a sugestão, franzindo a testa e arregalando os olhos, retrucou aborrecido, vociferando que seria um mentiroso se agisse dessa maneira. Além do mais, onde teria a areia para ficar no fundo da garrafa, já que nossa terra é constituída de barro vermelho?


Sem graça, seu Borges, um tanto desarticulado, tentou amenizar a situação dizendo que o sal é extraído do mar. Portanto, colocá-lo de volta na água seria a mesma coisa que apanhá-la no mar. Quanto à areia, bastava retirá-la do fundo do rio. Dando de ombro, o homem saiu furioso em direção ao seu vagão, a gesticular visivelmente contrariado por achar que o queriam transformar num mentiroso. Murmurando, agachou-se a catar os cacos da garrafa quebrada mostrando-se indignado com a proposta de Sr. Borges.


A partir de então, seu Borges resolveu providenciar algumas garrafas, de acordo com detalhes essenciais e as estocou em sua sala visando futuros contratempos e complicações. De fato aquela idéia foi providencial, pois outras garrafas foram preparadas, dada a procura e com um detalhe a mais, pedaços de conchas para dar maior autenticidade. O pior é que muitos passageiros passaram a pedir, alegando suas garrafas quebradas. Lógico que seu Borges sabia que era mentira, mas mesmo assim não negava o fornecimento. Só que descobriu que estavam sendo comercializadas, bem caras, nos municípios. O que levou a acabar com a “farra”, afinal não queria ser conhecido como espertalhão a explorar a ingenuidade dos interioranos do sul de Minas.


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