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Opinião
09/10/2014 16h42

O que diz a palavra

Bebeto Andrade

Por Bebeto Andrade

 

Vocês já repararam como algumas palavras mudam de sentido e nos deixam de calças curtas? Essa expressão aí, “calças curtas”, é um bom exemplo: significa desprevenido, desapetrachado, e pode indicar um político que é pego com a boca na botija, em flagrante delito. O assunto não é original, mas chama a atenção quando vemos os noticiários da TV, onde muitas palavras não significam exatamente o que querem dizer.

A  palavra “vazamento” está na morda, e atualmente não se refere a um furo no cano que pode esvaziar a caixa d´água. O “vazamento” mais propriamente dito diz respeito hoje à divulgação de informações que deveriam permanecer em segredo, mas que ganham as manchetes dos jornais. Desde Collor de Melo, que foi denunciado pelo irmão Pedro, o “vazamento” de informações virou moda e já atinge a Petrobras, empresa que investe milhões na prevenção dos clássicos vazamentos de óleo.

Outro dia senti na pele os efeitos de uma palavra mal compreendida. Conversava com um amigo sobre futebol, e comentávamos que Botafogo e Flamengo correm o risco de um rebaixamento neste Campeonato Brasileiro. Com a consciência tranqüila, falei que o Botafogo já estava na zona, isto é, que o time figurava entre os quatro de pior rendimento na competição. Pra quem não sabe, são esses quatro que formam o grupo da “zona de rebaixamento”, que todo mundo abrevia para “zona” simplesmente. Ora, foi o que bastou pra uma mulher que ouvia a conversa torcer o nariz e sair de perto, pisando alto e nos olhando pelo rabo do olho.

Nessa história toda, a palavra que causa mais confusão é “pontual”. Deu no jornal outro dia: “companhia aérea afirma que atraso de avião foi um fato pontual”. Fiquei besta ao ler a notícia, pois sempre pensei que “pontual” é o cidadão que não chega antes nem depois de um compromisso, mas comparece na hora exata. Então me explicaram que um fato “pontual” diz respeito a um ponto específico ou a um detalhe do todo, sem maiores implicações. Em poucas palavras, o atraso do avião havia sido um mero acidente, um fato ocasional, que não deveria preocupar os clientes da companhia. É claro que entendi a explicação, mas a justificativa da empresa me pareceu uma boa conversa pra boi dormir.

Então ficamos assim. Nas atuais eleições, passado o primeiro turno, podemos dizer que Levy Fidélix e Pastor Everaldo foram para a zona de rebaixamento; Marina Silva, com sua ascensão esplendorosa e posterior queda, não passou de um fato pontual; e Dilma e Aécio... bem, os dois devem se preocupar com vazamentos de informações, pra não serem pegos de calças curtas ou com a boca na botija.

E o eleitor? O eleitor que ponha a barba de molho, se não quiser ser tosqueado.

 

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