Por José Luiz Ayres
Aguardando na plataforma da estação de Cristina (MG) a chegada do expresso da manhã oriundo de Itajubá, um cidadão visivelmente impaciente, resmungava a lamentar sacando do bolso a cada instante o relógio, pelo considerável atraso que se verificava com o trem. De súbito o chefe da estação se chega as pessoas que ali se encontravam, reunindo-as e mostrando-se aparvalhado a expor um semblante fechado em fisionomia taciturna e com a voz um tanto embargada, diz que o expresso mantinha-se fora do horário dado a um fato bastante triste e embargada comovente envolvendo à notícia vinda da Capital Federal, via telégrafo, que o presidente Getúlio Vargas acabara de cometer um suicídio no Palácio do Catete. Mas a notícia carecia de informação, o que em conseqüência ocasionara à paralisação momentânea da ferrovia, assim como possivelmente de todo o Brasil diante do impacto trágico de grande comoção.
O irritado cidadão que lamentava o atraso do trem, ao ouvir a informação mesmo se sentindo aparentemente consternado, aproximou-se do chefe e um tanto injuriado disparou: - Tudo bem que o povo esteja chocado, mas as nossas vidas continuam e como tal a ferrovia. Afinal que culpa nos cabe se o homem resolveu dar fim a própria vida? Lamento seu gesto, mas a ferrovia não pode parar de servir aos seus usuários e objetivos! Deus o tenha e perdoe sua alma!
Nisso um passageiro que como ele ali estava à espera de expresso, indignado se insurgiu retrucando-o a dizer que ele era um insensível, desalmado desprovido de sentimentos, desumano e que respeitasse a dor do povo brasileiro nessa hora tão triste e dolorosa pela perda trágica do seu mandatário maior. Acusando-o de “integralista”, deixou o local à procura de notícias. O “atrasadinho”, saindo de banda efoi se posicionar à extremidade da plataforma.
Com quase uma hora de atraso, chega à estação o expresso como surpresa: não havia acionado o apito às proximidades da cidade, tendo a frente da locomotiva em ambos os lados, afixadas aos suportes para tal uso eventual, bandeiras brasileiras a meio-pau, o que confirmava tristemente a notícia da morte do presidente. Àqueles que ainda se mantinham com esperança, cabisbaixos a utilizarem-se dos seus lenços, renderam-se a realidade.
Sob o silêncio sepulcral, deu-se a movimentação dos desembarques e embarques, só quebrado pelo silvo do chefe da estação, sem que houvessem os habituais apitos de partida. Seguindo seu destino, lá foi a Maria Fumaça 225 cumprindo seu percurso serra abaixo, levando a dor de uma trágica história perpetuada aos anais da república.
Este episódio bem comovente e quiçá histórico, foi narrado por um senhor durante um encontro casual no barzinho da estação de São Lourenço enquanto saboreávamos delicioso café. Identificando-se como seu ÀureoAraujo, natural de Belo Horizonte, aqui estava a visitar nossa cidade. Este fato segundo revelou, o marcou para sempre: 24 de agosto de 1954, quando aos quinze anos com seus pais retornava de uma festividade em Cristina pelos 50 anos de casados de seus avós.