Tomo I
Escrever de trás pra frente, dar “pitacos” em narrações, escrever em primeira pessoa são coisas que nós, meros mortais, não podemos fazer.
Admiro Machado por diversos motivos. O primeiro motivo é o fato dele ser mulato, brasileiro e ter vivido parte da vida em um ambiente de classe baixa. Por que isso é um motivo para ser admirado? Porque ele estava vivendo no tempo onde a corrente determinista era forte, e para o determinismo ele tinha todos os defeitos, e foi simplesmente um gênio.
O segundo motivo é a ironia machadiana: dedicar um livro aos vermes, dizer que o amor durou 11 meses e alguns contos de réis, matar Escobar num mar de ressaca pois ele tinha morrido em um certo mar de ressaca em algum outro momento.
O terceiro motivo é o fato do Machado ser um solo que nunca se transformou num trágico quarteto.
Admiro não só Machado mas também Cecilia. Ela foi mulher, forte. Sofreu e teceu palavras como quem brinca de desenhar no ar.
Admiro Tancredo, JK, Madre Thereza, alguns ideais do Che.
Admiro o meu povo. Povo que não foi Guevara, que não foi De Calcutá, que não foi Neves, Meirelles ou tampouco Machado. Admiro as pessoas que acordam cedo, que trabalham, sustentam seus filhos e fazem esse projeto de nação funcionar. Admiro esses meros mortais, que não fizeram grandes feitos inenarráveis mas fizeram com que a vida acontecesse. Choraram, riram, sofreram, lutaram. Não se interessaram por política e amavam Copa do Mundo, liam Paulo Coelho e Crepúsculo, ouviam Cine e comiam comida da promoção.
Mas, e os grandes feitos desprezados? Como ter dois empregos, e dividas maiores que o salário? Fazer hora extra todos os dias e não ter um carro, ou tê-lo sem a gasolina?
Admiro os mitos e os heróis, e também admiro o povo que os mistificou e os elegeu heróis. Admiro quem constrói o mundo. Admiro por quem eu luto!