A esquerda brasileira esperou por muito tempo para chegar ao Poder e realizar as transformações sociais e econômicas que tanto o país almejava. Com a eleição do presidente Lula esse sonho começou a se realizar. Foram várias políticas sociais e econômicas que, inegavelmente, mudaram a “pirâmide social”, a economia e a imagem do país.
Um dos marcos do governo Lula foi à inversão de prioridade. A forte intervenção do Estado e o revigoramento das políticas públicas foram os grandes diferenciais em relação ao governo neoliberal de FHC, que sabidamente, teve como norte a privatização do Estado brasileiro em obediência às cartilhas do FMI e do “Consenso de Washington”. E os resultados dos dois modelos são muito bem conhecidos pela sociedade brasileira.
Com a eleição da presidenta Dilma se esperava um aprofundamento nas políticas implantadas pelo governo Lula. Contudo, há fortes indícios de que isso não ocorra, fato que nos deixa preocupados e desconfiados sobre o futuro desse governo e do próprio país.
Uma das maiores expectativas do povo brasileiro com o governo Dilma foi com relação à abertura dos arquivos da ditadura militar. Porém, assim como ocorreu com FHC e Lula, Dilma parece também relutante na divulgação dos documentos que podem demonstrar as barbáries cometidas pelo regime militar e que marcaram de forma indelével a história do nosso país.
Mas se não bastasse esse passo para trás, a presidenta Dilma, novamente, nos decepciona. Dessa vez, parece que o governo se curvou também ao modelo de administração dos “tucanos”, com a decisão de privatizar os aeroportos. E assim como ocorreu com as rodovias e ferrovias na era FHC, o projeto é entregar à iniciativa privada, apenas, os grandes e mais rentáveis aeroportos do país.
Dando continuidade a esses “retrocessos”, nessas últimas semanas fomos surpreendidos com outras possíveis decisões. É de conhecimento público que o presidente Lula deixou dois importantes projetos para serem implantados no atual governo: o marco regulatório dos meios de comunicação, denominado pelos blogueiros de “Ley de Médios”, e a implantação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). O primeiro seria um forte golpe no oligopólio das comunicações, e a tão sonhada democratização dessa “indústria cultural”; e o segundo (PNBL), constituiria numa ampla e verdadeira inclusão digital, na qual seria oportunizada às camadas de menor renda o acesso às tecnologias da informação e comunicação para que se possa produzir e disseminar o conhecimento. Porém, tudo indica que esses valiosos projetos ainda adormecerão em berço esplêndido do Ministério das Comunicações, por tempo indeterminado.
No “II Encontro de Blogueiros”, ocorrido em Brasília no dia 18/06/2011, essa premissa veio à tona. Estavam presentes, dentre outros convidados, o ministro das Comunicações, Bernardo Cabral. A esperada palestra do ministro se transformou na grande decepção do evento. Bernardo Cabral deixou claro que o governo, por falta de recursos financeiros, abriu mão do caráter público do PNBL. Assim, toda a infraestrutura da infovia brasileira ficaria nas mãos da iniciativa privada.
Com relação à “Ley de Medios” o ministro saiu pela tangente e se esquivou das perguntas, o que nos leva a concluir que a ‘mídia nativa’, por mais uma vez, colocou o governo contra a parede impedido-o de apresentar esse importantíssimo projeto para sociedade.
Aliás, nesse sentido escreveu o jornalista Eduardo Guimarães, do blog Cidadania: “Se Dilma não teve nem força para manter sua decisão inicial de não demitir Palocci, como terá força para aprovar uma lei que proíba um quase monopólio de meios de comunicação no Brasil que não existe em lugar algum do mundo desenvolvido? (...) Neste momento, portanto, a bandeira da ‘Ley de Medios’ parece esfrangalhada. Ninguém mais sabe o que significa essa lei”.
Diante desses poucos exemplos, não há dúvidas da necessidade de uma urgente intervenção das forças populares no sentido de colocar o governo no rumo das políticas democráticas e populares, antes que a presidenta Dilma seja totalmente envolvida pela ala conservadora de sua base, e seja compelida a ordenar: “direita volver”...!
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