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Opinião
26/07/2012 16h31

Opinião Janelas do Tempo

Irmãos Maristas (III)


Irmão Geraldo, um dia, pediu-me que rezasse por ele e, seguramente, lembrei-me disto durante mais de vinte anos. Até hoje, nas minhas orações, às vezes, sua figura vem-me à mente. A primeira fogueira de São João de que me lembro  foi no campo de futebol da nossa Divisão dos Menores, em 24.6.58. Impressionou-me muito. Foi no mesmo dia em que o Brasil venceu a França por 5 a 2, pela Copa do Mundo, passando à final contra a Suécia. Acredito que em algum momento estava perto deste irmão, mas são lembranças muito apagadas pelo tempo. Era o enfermeiro, encarregado de medicar os alunos, tinha uma pequena farmácia na escola que funcionava como primeiros atendimentos. Não sei se tinha curso de enfermagem.  Certamente se existisse a Anvisa, não estaria atuando...

Irmão Andrônico era o encarregado de vender livros, cadernos e outros materiais escolares para os alunos. Lembro-me da janelinha em que nos postávamos, naquele grande corredor cheio de fotografias – infelizmente sei que a maioria se perdeu quando o colégio passou um tempo nas mãos da Prefeitura− antigas de décadas e décadas passadas, para fazermos nossas compras.

Irmão Elísio ensinava os alunos a fazer uns chaveiros com uns fios plásticos e vários tipos de pontos. Eu adorava  este  trabalho. Aliás, foi um dos únicos tipos de trabalho manual de que gostei em minha vida. Sempre tive pouca habilidade para serviços manuais. Um deles era chamado de barriga de barata.

Irmão Odorico (Marcos), inteligente, mas bem neurótico e impaciente. Comandava como ninguém a banda da escola. Tinha muito interesse em colocar os jovens no bom caminho (no entender dele) desviando, o máximo possível, a atenção deles do assunto sexo. Quando eu tinha treze anos, vivia sonhando com o momento em que ele viesse abordar o tema comigo. Até que um dia ele veio. Acho que só a partir dos catorze ele achava que suas instruções eram necessárias. Ao ouvir um comentário meu, em determinada ocasião, com um colega, a respeito do dia em que quase morri afogado, onde  disse:  − podia ter morrido aquele dia, pelo menos  estava em estado de graça e iria para o Céu, agora não estou pronto..., Odorico quis saber por que eu não estava pronto e perguntou-me:

− Por quê?

− O que você anda fazendo?

E isto foi o estopim para que dias mais tarde ele iniciasse a sua conversa. Só que suas opiniões sobre o tema eram completamente atrasadas, como a dos pais e orientadores daqueles tempos. Não discuto suas boas intenções, mas pobre juventude!!!

Quando cheguei de volta ao colégio, no mês de agosto de 1960, depois de um ano e meio estudando em São Lourenço, chorava muito. Pedi a meu pai que falasse com ele, que estava ocupando a direção interinamente para me deixar voltar até aqui no dia da Festa de Agosto. Ele aproveitou para dar uma debochada de meu pranto. Provavelmente também era destes que achavam que homem não chorava...

Outra vez, com todo o seu nervosismo, estávamos alguns alunos, na Rádio Clube de Varginha, junto com ele. Eu segurava um trombone, em pé, no chão. De repente, caiu uma parte ou o trombone todo, que talvez fosse mais alto do que eu. Imediatamente e, demonstrando sua falta de preparo e de paciência, deu-me a maior bronca, no meio de todas aquelas pessoas.

Por respeito à sua memória, não vou dar o nome verdadeiro do irmão a que me refiro agora. Vou chamá-lo de Irmão Neemias. Era encarregado de serviços de enfermagem, após a transferência do Irmão Geraldo. Homossexual, fazia a América entre os meninos. Qualquer doença de que nos queixássemos, por exemplo, dor no cabelo, ele queria examinar todas as partes do corpo da gente. Aproveitava a dica, por exemplo e queria saber se os cabelos de outras partes do corpo estavam doendo também. E fazia ao menos uma observação em outros locais.

(continua)

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