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Opinião
03/01/2012 15h13

Opinião Janelas do tempo - A sétima arte (parte I)

Janelas do tempo - A sétima arte (parte I)

Quando despertei para o mundo, mamãe costumava passar filmes na parede de casa com uma pequena máquina praticamente artesanal que comprara.

 

Chamava-se Cine Barlan, os filmes eram mudos e legendados com cenas apenas infantis. Foi meu primeiro contato com a sétima arte. E entre algumas coisas que tenho guardadas, existe um pedaço rasgado de uma destas fitas.

 

O princípio do cinema em minha vida foi com as matinês de domingo, no Cine Odeon. A melhor parte eram os seriados. Em alguns, quando a cena se passava em outro planeta, tudo mudava de cor. Não era mais branco e preto, mas verde. Por vezes, eram acompanhados de um filme principal, mas pouco me interessava por ele. Era duro esperar uma semana inteira para assistir à continuação da série.

 

Havia a tradicional troca de revistas entre os meninos à porta. Movimento impressionante da criançada. Também os vendedores de balas, algodão doce, pipoca. Havia o lanterninha, que acendia seu instrumento de trabalho em quem estivesse fazendo muita bagunça.

 

Minha estreia em filmes no Cine São Lourenço foi com Castelo Invencível, acompanhado por meu pai. Logo depois, um desenho do Mickey. Nas sessões noturnas, costumava dormir em boa parte. Neste último, quando acordei, vi o rato e achei parecido com um parente, dizendo seu nome.   

 

           
Em 1955, estando mamãe grávida e os três irmãos mais velhos estudando internos, todas as noites em que meus pais iam ao cinema − e que não eram poucas −, levavam os três filhos menores.
Ficávamos o tempo todo fazendo, uma vez que apenas eu sabia ler, mesmo assim, com a leitura de início de segundo ano primário, era impossível acompanhar as legendas.

 

Um dos filmes que mais me marcou, naquela época, foi Quo Vadis?

 

João Guimarães, que durante o dia trabalhava no Hotel Negreiros, de seu concunhado Antônio Modesto Negreiros, à noite, trabalhava no cinema. Quando o filme era muito importante e corríamos o risco de não achar entradas na hora, papai pedia ao amigo que as comprasse antes e entregasse na loja.  Eram tempos românticos em que a frequência às salas era grande e constante.

 

Um dia, o idealismo de Joaquim Macedo e Rafael Sciani fez com que planejassem a construção do Cine Vogue. Dificuldades financeiras durante a obra os obrigaram a vender cadeiras cativas. Por cinco mil cruzeiros cada, papai comprou duas. Exigiu que colocassem no contrato que sua mãe e irmã teriam direito a usá-las. Mas, pelo que sei minha avó jamais entrou em nenhum cinema. Quanto à tia, aproveitava vez por outra, quando nenhum dos dez (!) membros da nossa família se fazia presente. Creio que foram vendidas cerca de duzentas cadeiras e que mais de 95% dos seus compradores já morreu.  

 

O filme que o inaugurou foi O Último Bravo em estilo cow-boy. Lembro-me perfeitamente de que aquela inauguração fora adiada por diversas vezes e não víamos a hora de ter o novo e belo cinema. Também ficou na minha mente a imagem de Aparecida Sciani costurando a bainha da cortina da tela, antes do evento. A cada momento íamos até lá ver o que estava acontecendo.

 

Tenho guardada, a programação do Cine Vogue de maio de 1957, um dos seus primeiros meses de existência. A sessão noturna era às 8h15min. e aos domingos e feriados havia matinês às 14 horas. Entre os filmes programados, estavam: Aviso aos navegantes, com Oscarito, no dia 1º, Noite de Núpcias, com Martine Carol, no dia 11 e O Cristo Proibido com Raf Valone, no dia 22.  

 

(Engraçado é que acabo de verificar que existiu um filme, exibido em 4 de maio de 1957 denominado Aconteceu em 20 de julho. Como poderia imaginar que um dia, em meu segundo livro, um de meus escritos levaria esse título do qual nunca ouvira falar?).

 

Na contracapa daquela programação há uma propaganda da Casa Maps, propriedade de Rafael Sciani e que ficava onde hoje está a Mercearia Biasi.

 

Continua na próxima edição...

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