Tem muita gente com câncer, do sertão grande do Rio São Francisco à Avenida Paulista, passando pela favela da Maré e a Avenida Atlântica.
Uns "merecem" tratamento de primeira e outros encaram a fila do SUS, dependendo da grana e da posição social de cada um.
Sem essa de que câncer é castigo! A doença pode acometer qual-quer pessoa. Já foi pior. Hoje, há mais recursos; o doente chega a ter uma sobrevida, aparecendo até quem fique curado.
Tumor social e doença civil, mesmo, é outra coisa. Maligno é o fato de a minoria de bacanas refestelados nos palácios da República - Pla-nalto, Congresso, Justiça etc. - contar com serviços médicos de alto padrão, inacessíveis a quem paga por isso com o bem supremo, a vi-da.
Todo mundo contribui para o PIB, somatório dos valores econômicos que o país gera, mas quem faz a festa são "os 10 mil de cima", como dizia Eça de Queiroz há uns 150 anos. Hoje, são 100 mil, 200 mil, 300 mil espertos?
Nada de bom se deve esperar desse conceito: Produto Interno Bruto. Poderia ser Produto Interno Boçal. Para ser superada, a miséria huma-na requer abordagem inteligente, e não estúpida.
A "vacina" contra a desigualdade na saúde precisa ser iluminada como foi a vacinação que baniu a varíola: universal e gratuita, porque se uma só pessoa adoecesse, a epidemia poderia voltar.
Será que ainda vamos ver os "representantes do povo" abrindo os ambulatórios palacianos para o cidadão, seu filho, sua família, nas emergências?
Esperemos que sim. O resto não passa de esperteza burra.
por Miguel H. Borges
henrikb@uol.com.br