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Opinião
30/10/2012 17h45

Opinião Na Fumaça do Trem - Coisas de um passado

Na Fumaça do Trem - Coisas de um passado

Minha inesquecível sogra Paulina, de saudosas lembranças, como tantos outros aqui desfilados, foi também uma passageira frequente dos trens e, como tal, possuidora de inúmeros episódios vivenciados a nos proporcionar momentos hilariantes, até dramáticos e reflexivos. Dentre a gama de fatos narrados, contou que numa ocasião se viu apavorada, ao passar dias a fio sob tensão, por haver se deixado tomar pelo pavor em tornar-se uma tísica.

Estudando em regime de internato no Colégio Lafayette do Rio de Janeiro, vez que residia numa fazenda nos arredores da localidade de Andrade Pinto (RJ) – toda sexta-feira regressava à casa e no domingo à tarde voltava ao colégio – relembrando sua mãe, recordava-se das recomendações por ela passadas, quanto ao cuidado necessário durante as viagens. Entre vários, mencionava o alerta em não conversar com pessoas embarcadas às estações de Paty do Alferes e Miguel Pereira, pois estas cidades eram tidas como locais de muitos tuberculosos, que as procuravam no intuito da cura pelas prescrições médicas dado o clima bem favorável.

A principal recomendação, é que elevasse o vidro da janela evitando qualquer tipo de contato à plataforma e, se possível, colocasse a mala sobre a poltrona ao lado, no intuito de não permitir que alguém ali embarcado se sentasse, alegando estar o assento ocupado.

Quando o trem parou à localidade de Avelar, antes das cidades preocupantes, uma senhora embarcou e sentou-se ao seu lado sem que a observasse, pois entretia-se com o livro de poesias. Dando conta da mulher, que sorriu ao notar o espanto, trocaram palavras, para logo depois Paulina retomar a leitura e  pensar consigo mesma: - Ainda bem que ocupou a poltrona! Em Arozelo, última estação antes de Paty, o vidro foi erguido como sempre procedia.

Depois de passar pelas “fatídicas” cidades, mais tranqüila, Paulina fecha o seu livro, abaixa o vidro da janela e põe-se a conversar com a mulher serra abaixo, em prosas descontraídas. Entretanto, após passarem pela localidade de Arcádia, penúltima estação antes de Belém (hoje Japeri) onde era efetuada a baldeação ao Rio de Janeiro, a mulher suspirando diz que não via a hora de rever seus parentes, pois há quase quatro meses permanecia afastada deles. Paulina, curiosa, indaga o porquê dessa ausência.

Acabrunhada, a mulher responde ser por conta da saúde debilitada. Mostrando-se apreensiva, Paulina pergunta o que a levou à debilidade e preocupa-se ao ouvir a revelação bombástica de ser pela tuberculose. Encolhendo-se à poltrona a colocar a mão sobre a boca, virando-se para a janela, se pôs a chorar sem que desse a perceber, com o uso de seu lencinho. Não tardou, ergueu-se do lugar conduzindo sua mala, dizendo à mulher que iria à varanda, pois Belém estava próximo e queria pegar um bom lugar no expresso para o Rio de Janeiro!

Mesmo tendo passado décadas desse episódio, Paulina não esqueceu do drama que viveu e ainda o tinha bem vivo à memória.

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