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Opinião
13/09/2012 17h46

Opinião Na fumaça do trem - Luiz, o observador desatento

Na fumaça do trem - Luiz, o observador desatento

Caro leitor, como pode observar ao longo das nossas crônicas semanais, tenho recorrido em boa parte, às histórias por meu saudoso pai Luiz, contadas baseadas nas suas incontáveis viagens de trem ao longo de sua vida, após iniciar-se na profissão de caixeiro viajante, onde através das ferrovias teve à locomoção por vários anos a percorrer Minas Gerais até 1940, dedicando-se a briosa atividade. A partir de então, deixou a profissão tornando-se comerciante estabelecido no Rio de Janeiro no ramo de laticínios, criando a firma Sul Mineira de Laticínios Ltda. Porém, esta nova função na verdade não o fez afastar-se definitivamente dos trens, pois exigia que visitações comerciais periódicas aos seus fornecedores, se fizessem necessárias e sua presença física era de vital importância na expansão do negócio. Portanto, as viagens continuaram não de forma diuturnas, mas sim bem mais espaçadas. Afinal seu afastamento do comércio não permitia tal prática.

Numa ocasião, dado a guerra, à dificuldade em obter suas mercadorias tornavam-se preocupantes e se viu por contingências sair à procura de novos fornecedores. Chegando por indicações a uma fazenda à cidade de Machado, cujo fazendeiro em estado de quase penúria; como revelou, lamentava-se pela falta de compradores aos seus produtos, a deixá-lo no propósito de encerrar as atividades, tal o prejuízo que vinha acumulando a ponto de pensar em vender a propriedade. Em conversa franca com Luiz, resolveu lhe propor a quitação de parte da dívida em troca de uma produção a ser fornecida paulatinamente e como complemento, entraria na negociação um automóvel Ford 38, que devido a escassez de gasolina, pelo racionamento de guerra, mantinha-se há dois anos sobre tocos de madeira fora de uso. Resumindo, a transação foi fechada. Todavia, um entrave se evidenciou; como seria o traslado de veículo ao Rio de Janeiro, se Luiz não era habilitado a dirigir e tão pouco sabia lidar com direção?

O velho amigo trem poderia ser a solução. Rumo à estação foi tratar do assunto, afinal aquele tipo de carga não se fazia comum, principalmente no interior. Após muitos contratempos e discordâncias, Luiz propôs a utilização do vagão pranchão propício ao transporte de toras de madeiras e derivados, onde o veículo seria colocado por rampa de acesso e, posteriormente, engrenado, freiado e bem amarrado com cordas resistentes. A penosa operação foi efetuada e quatro dias após, com a chegada do vagão solicitado, o Ford 38 estava sobre o pranchão devidamente seguro à espera do cargueiro a conduzi-lo à Capital Federal.

No dia previsto, Luiz combinou com o maquinista da locomotiva, que posicionaria nos quatros cantos do vagão, afixados nos moeirões que sustentavam as amarras, rojões, para caso houvesse qualquer imprevisto acendê-los no intuito de chamar a atenção pelos fortes estampidos; no que houve concordância.

Dentro do luxuoso Ford, Luiz se alojou confortavelmente e seguiram a longa viagem ao Rio de janeiro; levando consigo os pertences e, óbvio, seus suprimentos alimentares e a alegria do primeiro automóvel.

O tempo e o trem corriam, quando de súbito sente e vê o Ford balançar agitadamente e Luiz é lançado à frente de encontro ao volante pelo tranco abrupto havido. Assustado, abre a porta após o trem parar e observa que o maquinista e o foguista corriam à margem do leito agitando os braços. Sem saber do que se tratava e a olhar ao veículo, os espavoridos se chegam a indagar o que estava ocorrendo. Atônito, Luiz limitou-se desconhecer o problema. Subindo ao vagão constataram não haver qualquer anormalidade. Mas então porque aquela parada brusca?

Segundo o foguista, havia escutado o espocar de rojão, o que o fez avisar ao maquinista que imediatamente acionou os freios. Olhando os rojões afixados, constatou-se que o posicionado na frente à esquerda estava faltando, ou seja; fora deflagrado. Mas como se Luiz permanecia no interior do Ford?

Em rápida confabulação, chegaram à conclusão que só poderia ser alguma fagulha incandescente expelida pela chaminé da máquina e que por azar, caiu sobre o pavio do foguete, acionando-o. Esta foi a opinião unânime; não houve dúvida e vida que segue.

Com o cargueiro já a todo vapor, Luiz dentro do Ford, bem relaxado, suspira aliviado e abre um matreiro sorriso a pensar que, café só quando chegar ao destino, pois o que deflagrou o rojão, não foram as fagulhas, mas sim os fósforos utilizados para acender o fogareiro de “álcool” à aquecer o seu café, próximo ao rojão.

Que mico hein seu Luiz!

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