Desfrutava no cair da tarde sob deliciosa sombra no Parque das Águas em São Lourenço, quando tive a atenção despertada por um cidadão que, enfatiado com esmerado bom gosto, se chega a solicitar informações. Porém quando o atendia, soou o apito do Trem das Águas ecoando pelo ar. O senhor um tanto surpreso me parecendo espantado, perguntou se fora de alguma fábrica, pois lembrava bastante o apito das marias-fumaça do tempo de criança na sua cidade de Quissamã (RJ), ex-distrito de Macaé.
Sorrindo, lhe informei que de fato era da locomotiva do nosso Trem das Águas. Abismado, indagou-me onde poderia vê-la, já que era a primeira vez que aqui vinha e se encontrava “perdido” neste paraíso ao vir participar de um encontro evangélico como palestrante.
Em continuidade da prosa, recordando sua infância, pôs-se a narrar um episódio o qual o fez tornar-se um evangélico – quando aos 11 anos, órfão de pai, desdobrava-se entre a escola e a ajuda no sustento da mãe vendendo salgados na estação férrea toda manhã, a ter nos expressos seu forte nas vendas aos passageiros embarcados.
Numa ocasião, vendia seus quitutes junto ao expresso campista das 06h, quando deu por falta de sua cesta com os salgados, que habitualmente apoiava sobre o banco. Em desespero, correu de um lado para o outro e nada encontrou, e ninguém a viu. Já sob choro copioso, desolado, retornou à casa onde a mãe afagando-o, tentou consolá-lo a dizer que Deus havia usado aquele alimento para matar a fome de alguém, e certamente o recompensaria de alguma forma. Triste e conformado pelas palavras sábias e alentadoras da mãe, retornou à estação, talvez na esperança de recuperar pelo menos a cesta, quando o noturno procente do Rio de Janeiro, aporta à plataforma. Olhando desolado, alguns passageiros às janelas dos vagões o chamam; no que desiludidos ficaram pela falta de salgados. De repente, um homem lhe toca ao ombro a dizer:
– Menino, eis a sua cesta e a toalha!
Sem saber o que dizer, Jeová, o seu nome, limita-se a olhá-lo deixando escorrer pela face lágrimas, agora de alegria, e quase inaldivel fala:
– Obrigado moço por achar minha cesta.
O homem então retruca:
– Eu apenas segui o que Deus me orientou ao ver quem a levou, e embarquei no trem recuperando-a das mãos do espertalhão. A propósito, quanto aos salgados, os vendi na viagem ao regressar no noturno de volta a Quissamã e aqui estou. Agora o melhor! Eis aqui o resultado das vendas.
Passou-lhe às mãos um maço de notas e moedas. Aparvalhado, Jeová, misturando o choro, lágrimas e sorriso, agradeceu mais uma vez o bondoso homem, que sorrindo retruca novamente dizendo:
– Filho, agradeça não a mim, mas sim a Deus, pois fui apenas o instrumento nas mãos dele. Ele que o protegeu. Vai em paz! Ore a Deus que Ele nunca deixará de ouvi-lo.