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Opinião
24/02/2011 11h39

Opinião O valor pessoal e não material

Opinião: O valor pessoal e não material

Quando me dirigia à estação férrea de São Lourenço, ao chegar à praça fui abordado por uma senhora. Mesmo não sendo adepto em dar esmola, resolvi atender sua solicitação colocando a mão no bolso no intuito de atendê-la. Segurando o meu braço, disse que não queria dinheiro, mas sim que a auxiliasse. Retirando de sua surrada bolsa a tiracolo, desdobrando, apresentou-me um amarelado e já bem deteriorado papel, chancelado com a sigla RMV (Rede Mineira de Viação), o qual franqueava a utilizar-se dos trens graciosamente, enquanto vivesse.


Sabendo da existência do Trem das Águas aqui em São Lourenço e aproveitando a consulta médica no hospital, resolveu ir à estação no propósito de usar o trem de volta à Pouso Alto, aonde reside, já que há anos deixou de usar o trem, desde que passou a trabalhar na fazenda do dr. José.


Lamentando, a informei que o trem hoje só atende aos turistas no passeio até Soledade, e não mais servindo de transporte entre as cidades, como antigamente. Um tanto decepcionada e triste, agradeceu-me e quando voltou-se, a chamei pelo seu nome: dona Elvira! Atendendo-me, perguntei se não gostaria de viajar no trem no sábado. Sorrindo, perplexa pelo convite, me acompanhou e, na estação, após conversarmos com o sr. Edelmo, lhe  foi  dada uma passagem, a qual, feliz da vida, passou a contar o porquê daquele documento da RMV.


Retornava de Pouso Alto com destino à localidade de Freitas, onde morava, naquele fim de semana. Ao saltar do trem, notou que a mala e as sacolas estavam mais pesadas. E a caminhada a fazer era de quase 1 km da estação. Com dificuldade, parando algumas vezes, chegou em casa a deixar na sala as bagagens. Mais tarde, ao levá-las ao quarto, observou que uma delas não lhe pertencia. Assustada – pois além de ser de uma saca de pano grosso (lona), era dotada de fecho e ser bem pesada – a abriu. Apavorada, ficou ao ver que estava cheia de dinheiro. Espalhando-o sobre a cama, pôs-se a contá-lo, o que levou um bom tempo. Finda a contagem, lá estavam 5.300 contos de réis. Era uma fortuna! Guardando o dinheiro na sacola depois de anotar o valor, trancou-a no seu armário e ficou a imaginar como deveria estar aflito o dono da fortuna. Naquela noite não conseguiu dormir pensando no desesperado dono do dinheiro.


Na manhã de sábado, mal levantou-se, lá foi dona Elvira a caminho da estação portando a sacola de lona. Ao chegar à estação, dirigiu-se ao chefe, sr. Paulo, a indagar se alguém havia dado pela falta de alguma mala importante. Seu Paulo atônito, aparvalhado, a respondeu afirmativamente que sim, mostrando a mensagem telegráfica passada pela RMV sobre uma sacola de lona destinada ao orfanato de Nhá Chica, em Baependi, contendo a importância de 5.300 contos de réis. Entregando a sacola com o papel anotado o exato valor, dona Elvira aliviada despediu-se do sr. Paulo, que a presenteou com um passe-livre permanente, o qual passou a viajar sem o pagamento de passagens, enquanto vivesse, acompanhado de um recibo da RMV da entrega da quantia e da sacola.

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