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Opinião
21/11/2013 11h01

Os fantasmas se assustaram!

José Luiz Ayres

por José Luiz Ayres


Dominado por deliciosas madormas após caminhar e desfazer o delicioso almoço, a fim de queimar os excessos calóricos, lá estava, agora, sentado num dos bancos da praça da estação férrea de São Lourenço, quando sou despertado por um senhor a tecer comentários ao aprazível local, depois de sentar-se ao meu lado. Fazendo alusão ao conservado complexo ferroviário, cuja lembrança o fazia retroceder à juventude, quando teve nos trens o apoio total no deslocamento ao Colégio Marista S. José à cidade de Varginha, já que morava em Cruzeiro (SP) e pôs-se a discorrer algumas passagens marcantes. Entre elas, contou que, certa vez, retornando ao colégio num domingo, como interno tinha a chegada obrigatória até às 21 horas após o fim de semana em casa; ao perder o expresso das 16 horas, o que acarretaria a perda do próximo final de semana por chegar fora do horário e, outra composição só às 18 horas com a chegada prevista em Varginha às 21h30min, desesperado, teve a informação que um trem misto era esperado às 17h30min a pegar à estação o vagão estacionado à linha 3. Quase no horário, disfarçadamente, desceu aos trilhos e foi caminhando até ao tal vagão. Lá chegando, mesmo já sob a penumbra do entardecer, nota que o carro é diferenciado dos habituais. Rodeando-o, senta-se num dormente e fica a aguardar o trem. De súbito vê na curva o comboio esperado e, após sua passagem, rapidamente acessa a escada do vagão, posicionando-se do lado oposto a plataforma no intuito de não ser visto na estação. Minutos depois, sente o tranco do engate do vagão ao comboio e dá-se a partida.

Já sob o negrume da noite subindo a serra da Mantiqueira com o frio se intensificando e os calafrios surgindo, resolveu verificar se a porta do vagão em que apoiava as costas não se mantinha trancada. Ao girar a maçaneta, eis a surpresa, pois se abriu! Mesmo na densa escuridão, entrou e, tateando o madeirame lateral, notou algo que, ao correr a mão sentiu tratar-se de uma poltrona estofada, onde sentou-se colocando sobre as coxas sua mala a apoiar os braços, servindo de apoio à cabeça. Tempos depois, um barulho o assusta e, de súbito, vê uma mortiça claridade através da vidraça da porta do lado oposto, que se abre e percebe a figura fantasmagórica de um homem alto, trajando uma capa e chapéu enterrado à cabeça, que adentra ao vagão pondo-se lentamente a caminhar segurando um candeeiro, em cuja chama morrediça mal dava para distinguir algo. Foi quando conseguiu observar em meio ao vagão uma mesa sobre a qual o homem, aproximando-se, eleva o candeeiro e abre uma urna mortuária a olhar o seu inferior. Assombrado, o jovem “preso” à poltrona, tomado pelo horror e apavorado, portando a mala sai porta afora e desce ao último degrau da escada, jogando-se do trem. Por sorte, caiu sobre uma moita de capim margeante ao leio e apenas teve pequenos arranhões.

Segurando sua mala, no escuro, a guiar-se pelo brilho fosco dos trilhos, caminhou debaixo de muito frio até abrigar-se num dos abrigos servidos às manutenções da linha.

Com o dia clareando, foi acordado pelo funcionário da rede, a lhe contar que em Passa Quatro, corria a história contada pelo papa-defunto que acompanhava o corpo do finado coronel no vagão fúnebre, que viu a alma do “de cujos” deixar como um raio o trem aqui na serra. Por acaso você não a viu? Sem nada a dizer, pediu carona no trole ao homem, onde horas depois chegava a Passa Quatro. Retornando a casa, sobressaltado, narrou aos pais as agruras acontecidas e ter uma noite assombrada por ter visto um “fantasma” já que só veio a saber que não se tratava pela narrativa do funcionário que o acordou pela manhã. Portanto o “fantasma” não era o papa-defunto. Mas o pior é que disse que presenciou a alma do coronel desaparecer do trem bem a sua frente! Portanto, ele também foi um fantasma para o assustado papa-defunto!

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