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Opinião
03/10/2013 10h31

Padre Barbosa e o bode preto!

José Luiz Ayres

por José Luiz Ayres

 

Recorrendo as histórias contadas pelo meu saudoso amigo monsenhor Barbosa, lembro-me entre tantas, um episódio o qual foi obrigado pelas circunstâncias, a tomar uma atitude enérgica, fora dos seus padrões de passividade e bondade, tal a situação que naquele vagão de trem era desenvolvida entre os passageiros.

Após passar a noite numa fazenda na zona rural de Parapeuna (RJ) devido a solicitação em ter que ministrar o sacramento da extrema-unção a um velho ex-escravo, que veio a falecer logo a seguir no alto dos seus 104 anos, se viu obrigado a permanecer à fazenda pela falta de transporte, já que o trem com destino a Rio das flores, só na madrugada do dia seguinte às 5 hs.

Embarcado no vagão-misto, o qual era destinado ao transporte não só de passageiros, mas sim a todo o tipo de mercadorias, pequenos animais como: aves; porcos; cachorros entre tantos outros, amarrados de verduras, legumes, etc., lá ia padre Barbosa em pé seguro ao balaustre, quando passou a observar que o clima reinante, dava sinais de conturbação. De súbito ao fundo do vagão, um falatório se sobressai, - no que pensem o alarido dos animais como os cacarejos das galinhas, o grasnarem de gansos, piados e cantos de pássaros, roncos de porcos e o vozerio dos passageiros - a chamar a atenção de todos, tal o bate-boca que se generalizava. Barbosa que em meio à confusão, toma conhecimento do entrevero, tenta caminhar até o “olho do furdúncio” e, se depara com o grupo de pessoas a exigir que um senhor deixasse o trem na próxima parada, pois do contrário jogariam porta a fora o seu bode preto, já que o cheiro do animal estava empesteando o vagão. Claro que o homem se negava a deixar o trem e muito menos que matassem seu bicho de estimação. Mas sem ter defesa e a quem recorrer, pôs-se à frente do bode tentando dissuadir aos que os atacavam.

Padre Barbosa, sentindo que a massa enfurecida continuava irreversível quanto à intenção de lançar o pobre animal do vagão em movimento, empurrando o grupo, juntou-se ao homem acuado e virando-se aos inconformados, com o dedo em riste a cada um, impôs a sua religiosidade em defesa do pobre animal, a vociferar dando de Jesus Cristo quando expulsou os vendilhões do Templo, a chamá-los à consciência da atrocidade que tencionavam fazer, esquecendo que o animal não pediu para ter essa característica não odorosa e que naquele vagão outros animais eram conduzidos sem que os descriminassem. Como aquele dia, era 4 de outubro, e como tal dia celebrado a São Francisco de Assis, cujo o cunho histórico o simboliza como o protetor dos animais, aproveitou para pedir a todos, principalmente aos que tinham animais sob suas guardas, a se juntarem próximo a ele, pois daria a benção não só aos irracionais como os racionais, por intercessão de São Francisco de Assis. Retirando de valise um recipiente com água benta, com ajuda do dono do bode, pediu a todos silêncio, fazendo Sinal da Cruz onde todos o seguiram e deu inicio a oração, sem deixar de rogar ao padroeiro perdão por aqueles que se insurgiram contra o bode num momento de descontrole emocional. Após a conclusão da oração, asperjou a água sobre os animais, primeiramente, e logo a seguir a todos, que contritos receberam a graça sob as benções de Padre Barbosa por intercessão de São Francisco de Assis, com a calma voltando a imperar. Óbvio que o bode preto, com todo seu “odor” não mais foi motivo de discórdia e todos passaram a ter seus semblantes demonstrando serenidade e uma paz incomensurável, cuja prevalência passou a ser exercida e regozijada pelos animais, notadamente entre os pássaros, em belos cantos, gorjeios e trinados como agradecendo pela vida do pobre bode preto, salvo por padre Barbosa em conter a fúria dos racionais.

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