Alguém aí já foi vítima de um “palpite azedo”? Explico. “Palpite azedo” é uma expressão de nossas avós e significa o oposto, o lado de lá, o contrário do bom conselho. Se alguém lhe disser, por exemplo, pra tingir o cabelo de acaju ou pra adotar um filhote de jacaré, não tenha dúvida: você estará diante do autêntico palpite azedo, de consequências imprevisíveis e geralmente nefastas.
O palpite azedo, como se sabe, é a especialidade do palpiteiro militante, figura universal como a gripe. Ele está em todos os lugares, de Aiuruoca à Sibéria, de Paris ao Sobradinho, e sempre disposto a emitir opiniões sobre assuntos alheios. Sua preferência é por trabalhos de construção ou reforma de casas e prédios, mas ele não se faz de rogado e atua também em questões amorosas, demandas judiciais, tratamentos médicos e até no toque do seu celular. A senha do palpiteiro é sempre a mesma e começa por “se eu fosse você...”
Aqui em Cruzília, o palpiteiro teve muito trabalho durante o mês de abril. Com a troca das tubulações de esgoto de algumas ruas, lá estava ele, orientando os funcionários, dizendo o que se devia ou não se devia fazer, expressando pontos de vista com a lucidez de uma betoneira. É claro que a maioria dos trabalhadores não dá atenção aos palpites, mas já ouvi dizer que alguns estão pensando em trabalhar com protetores de ouvido.
Dar palpites. Taí uma coisa a que ninguém resiste, desde que Eva sugeriu e Adão comeu o tal fruto proibido. Todos os dias, tem sempre alguém pronto pra nos dizer que roupa vestir, o que comer ou qual remédio tomar, e sem cobrar nada por isso. Na maioria das vezes o resultado é desastroso, mas continuamos ouvindo os palpites azedos e, mais ainda, seguindo-os. Aquela resposta certa da prova, que mudamos confiando no palpite de um colega, parece nos perseguir pela vida.
Na política, então, o que tem de palpiteiro não é brincadeira, todos com a solução perfeita para os nossos problemas. Dá gosto enumerar algumas sugestões para Cruzília: instalar uma vaca mecânica na cidade, uma escada rolante no Morro dos Cabritos, transformar o desbarrancado em lixão, fornecer um automóvel pra cada vereador... Enfim, o repertório é vasto, pois palpite é o que não falta.
Agora mesmo, por exemplo, se eu fosse você...
por Bebeto Andrade,
de Cruzília/MG