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Opinião
16/04/2015 09h52

Precipitar a liberdade, não é preservar!!!

Jozé Luiz Ayres

Numa oportunidade, ao ler uma crônica assinada por Eduardo Cruz, cujo tema baseava-se a um pequeno pássaro engaiolado, que na concepção do autor, inspirado talvez pelo sentimento lírico e à consciência ecológica, o tratava através do trinado triste e lamentoso como imaginário clamor pela liberdade, dentro da solidão e clausura do “habitat” de uma gaiola. Essa belíssima crônica me calou fundo e me fez relembrar um episódio quando encontrava-nos à cidade de Raposo – RJ, desfrutando das andanças turísticas.

No hotel que estávamos hospedados, uma acolhedora varanda bem decorada com viçosas e exuberantes samambaias e várias jardineiras floridas, dava um destaque todo especial ao gostoso recanto daquela velha e conservada fazenda. Entremeada as ramagens verdejantes, a um canto quase despercebido, notava-se ao alto uma espaçosa gaiola onde pequeno pássaro se sobressaia pela bela “melodiosidade” do seu canto, mesmo sendo nós contrários ao aprisionamento de animais notadamente de pássaros.

Um senhor que costumava se utilizar do recanto para deleitar-se com sua leitura, sempre ao ouvi-lo cantar, desligava-se do livro e ficava a apreciá-lo como hipnotizado pelo doce e majestoso canto.

Numa tarde recostados as espreguiçadeiras da varanda curtindo a paz ambiental, o tal senhor adentrou posicionando-se próximo à gaiola, cujo pássaro até então silencioso permanecia quieto sobre o poleiro superior. Sem ter uma razão específica, a pequena ave pôs-se a saltitar e cantar. Esboçando matreiro sorriso, nos olhou, chegou embaixo da gaiola, colocou uma cadeira e, elevando-se abriu a portinhola da mesma colocando a outra mão na lateral, espantando o bichinho, que obteve de imediato o sabor da liberdade, voando até uma das samambaias, para em seguida alçar seu voo rumo à natureza.

O cidadão expondo largo sorriso ao olhar a ave que conseguira a liberdade, retornando ao seu lugar e antes de sentar-se, vira-se a mim, que perplexo o seguia na sua esdrúxula atitude e fala: - Estou realizado por praticar minha missão. Respondendo-o, falei que seu gesto foi abrupto e impensado, já que aquele pássaro; canário belga, por não pertencer a nossa fauna, só sobrevive e se reproduz em cativeiro. Olhando-me com olhos de sarcasmo, limitou-se a dizer que isso é pura balela e coisas de criadores.

Dois dias depois, deparamos caído ao chão da varanda na direção da gaiola vazia, morto, talvez pela suposta liberdade concedida a ter na solidão encontrada, na fome, na sede que os levaram à exaustão, o estresse ao retornar ao seu “habitat” e encontrar a portinhola cerrada a levá-lo ao desenlace com a vida. Segundo nos passou o gerente, ali vivia há quase dez anos, a encantar as pessoas com o seu canto melodioso. Envolto num plástico, aguardei à chegada do dito “ornitólogo” cidadão, que logo surgiu à varanda. Ao mostra-lhe a ave, a olhou limitando-se a dizer: - Que pena, mais pelo menos teve seus dias de liberdade antes de morrer. Fico feliz!

Moral da história: A imaginária prisão de um pássaro à gaiola não quer dizer necessariamente, que ele será bem sucedido quando fora das grades na busca de sua liberdade, pois adaptação da nova vida requer sem dúvida, um estágio preliminar antes de reintegrá-lo ao ecossistema.

Ah... Esses “Turistas bem Intencionados”, quando levados pelo emocional ecológico, tentando praticar uma boa ação e se esquecem de que nem sempre essa suposta atitude nada mais é do que um “cadafalso”, são de fato uns inocentes carrascos muito além de pitorescos.

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