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Opinião
18/04/2019 10h27

Páscoa: uma experiência a ser vivida

Por Ana Terra Oliveira

Depois das cinzas, são quarenta dias cumprindo a promessa! Domingo de ramos vem com alegria! Neste dia minha avó sempre me intrigou, enquanto todos estávamos com galhos de coqueiros verdes, vovó trazia um maço de ervas mimosas, manjericões e rosas de jardim - hoje penso que devia ser a meiguice! Ovos de chocolate, coelhos poedeiros botam no jardim. Na minha casa não era no jardim que os coelhos apareciam, mas debaixo da cama. Já para os meus sobrinhos, uma empolgante caçada de ovos no quintal coroam o domingo da ressurreição. Bananeiras são tocas excelentes para coelhos pascais. Coisas boas de se lembrar!

Eu sempre tenho dito que saber as origens das coisas nos ajuda a compreender, são as histórias que ampliam nossa visão. Eu quando fui contar a história do coelho para as crianças imaginei bem assim: um inverno todo em neve, um coelho branquinho camuflado, ninguém podia vê-lo, mas daí a neve vai derretendo e não só um coelho, mas milhares de coelhinhos, não mais invisíveis, começam a aparecer e enfeitam a primavera. Pois é! Conta a tradição, a páscoa pode ser uma celebração muito mais antiga do que se pensa.

Lá para as bandas da Europa os povos nórdicos no equinócio de primavera comemoravam a passagem do inverno para a primavera. Ofereciam flores e ovos coloridos, à deusa Ostara, ou Esther, simbolizando a alegria da nova vida. A deusa representa o aspecto mais jovial da grande mãe, o estágio do nascimento no ciclo da vida. Junto de Ostara associavam a lebre, coelhos, como símbolos de fertilidade. Os coelhos muito se procriam, são muito férteis, ninhadas, mais ninhadas. Daí coelhos e ovos se reuniram. A tradição de ofertar e presentear ovos pintados se expalhou, é bom presságio e dizem que até na china se pintavam ovos. Os franceses com a fabulosa culinária pintavam as cascas e preenchiam os ovos com chocolate. Daí coelhos, ovos e chocolate!

Os israelitas também comemoravam a páscoa, celebravam a libertação de certos males, de pragas e doenças. Bem no dia próximo à chamada páscoa, os israelitas também comemoravam a passagem pelo mar vermelho e a libertação do jugo do Egito. Eles fugiram e não houve tempo para fermentar o pão. Daí em memória à liberdade comia-se o pão sem fermento, o pão ázimo. Diz-se que Jesus foi a Jerusalém na intenção de comer a páscoa, onde se partiam um pão em celebração da vida e da libertação. E Jesus trouxe novas compreensões, a transcendência para a luz.

A páscoa hoje comemorada por nossa sociedade é um encontro de muitos destes símbolos e costumes. Alguns dizem que a páscoa está gravada no inconsciente coletivo. Bom...avaliando as confluências simbólicas, realmente, faz todo o sentido. A minha fixa caiu. Arrisco dizer, estes símbolos pascais são um convite, lembranças, impulsos para o despertar de uma necessidade ontológica de ascensão. A fixa caiu para mim, a páscoa é uma necessidade universal. Uma necessidade do ser: a necessidade de cada ser traçar o seu próprio caminho de ascensão.

E transcender, fazer a passagem. A páscoa que em hebreu é “peschad”; “paskha”, em grego é “pache”, em latim significa exatamente “passagem”. Sair de um patamar e ir a outro mais elevado, ascender, transpor barreiras materiais, da mente, dos sentimentos, trazer a luz. Nesta Páscoa nunca ressoou tão forte para mim esta oração, que é hindu, a oração hindu pela paz: “leva-nos do irreal para o real, da escuridão para a luz, da morte para a imortalidade, shanti(paz), shanti(paz), shanti(paz) a todos”. Isso é Páscoa. É poder dizer como Jesus disse: meu reino não é deste mundo, o reino de paz está no meio de nós e que a paz esteja convosco. É a relação com o que está além, o divino, o criador, com o que está dentro, nossos instintos, nossos desejos, sentimentos, pensamentos. Como vivemos a páscoa em nossas atitudes?

Contemplando os mistérios do Cristo Jesus essa compreensão se abriu para mim! Cada um de nós precisa viver a sua própria páscoa. Passar da escuridão à luz, do medo ao amor. Em Jerusalém, foi do medo de perder o reinado, o domínio, o poder que certos homens não enxergaram a verdade e a multidão preferiu Barrabás! Quem não tem coragem de enfrentar a própria escuridão é dominado por ela. É por isso que precisamos acender a luz, para ser livres, iluminar nossas atitudes, ser luz onde quer que seja, independente das circunstâncias, favoráveis ou não. E não foram nada favoráveis para Jesus! E mesmo assim ele conseguiu ser luz. Isso é amor, isso é Páscoa. Páscoa é abandonar o velho homem com seus preconceitos, seus julgamentos, suas crenças, limitações, sentimentos e medíocridade. E estar em paz com a consciência diante da verdade! Estar aberto para se unir e se entregar ao divino. Páscoa é confiança, é entrega! É uma experiência a ser vivida por cada um de nós, inexoravelmente! Feliz Páscoa!

Ana Terra Oliveira é moradora de São Lourenço, Psicóloga, Escritora e Contadora de Histórias.

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