06:44hs
Terça Feira, 16 de Julho de 2024

Leia nossas últimas edições

Leia agora o Correio do Papagaio - Edição 1865
Opinião
11/09/2014 08h46

Racismo a céu aberto

Bebeto Andrade

Por Bebeto Andrade

Aconteceu no dia 28 de agosto passado. O Brasil acompanhava a divulgação de mais uma pesquisa eleitoral, que mostrava o crescimento de Marina Silva, enquanto palestinos e israelenses selavam uma trégua no seu conflito histórico. A imprensa, portanto, não tinha do que reclamar: dois acontecimentos para encher páginas de jornal e blogs da internet, além da munição de imagens que a TV exibe em sistema de plantão. Em poucas palavras, material farto para salvar qualquer noticiário da modorra.

O fato que marcaria a semana, porém, foi flagrado por câmeras instaladas num campo de futebol, no Rio Grande do Sul. Jogavam dois clubes tradicionais do país, o Grêmio de Porto Alegre e o Santos, e o jogo era válido pela Copa do Brasil. Muito além dos gols ou das jogadas de efeito, as imagens que correram mundo mostravam a torcida do Grêmio enfurecida, xingando e ofendendo os jogadores rivais, particularmente o goleiro Aranha. E o pior: as ofensas eram claramente racistas, sem trocadilho e sem meias palavras.

A reação começou pelas redes sociais, principalmente facebook e instagram, e atingiu em cheio uma torcedora do Grêmio, Patrícia Moreira, dentista de 22 anos que presta serviços para a Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Uma multidão de usuários localizou o perfil da moça nessas redes e a atacou, dirigindo-lhe ofensas e ameaças. Desesperada, ela bloqueou seu perfil sem pedir desculpas, e no dia seguinte foi “afastada temporariamente do trabalho”. Só para esclarecer, uma câmera da ESPN registrou o momento em que Patrícia xingava o goleiro Aranha, e não é preciso ser especialista em leitura labial para perceber que ela dizia a palavra “macaco”.

Aconselhado pela própria polícia, Aranha registrou um boletim de ocorrência denunciando o crime, e agora será necessário investigar a participação de outros torcedores. A verdade é que Patrícia Moreira não estava só, e certamente não foi ela quem começou a xingar os jogadores do Santos. Como se diz na minha terra, Patrícia “pagou o pato” pela atitude de uma pequena multidão, e em breve irá responder na justiça pelo crime de injúria racial. Amigos e conhecidos dizem que ela é uma boa moça, gente fina e etc., mas as imagens da TV não deixam dúvida: a boa moça escorregou no tomate.

O caso é digno de nota porque desmonta a ideia de que no Brasil não há racismo. Oculto, disfarçado ou a céu aberto, o preconceito é tão real quanto as imagens divulgadas na TV, e somente a hipocrisia impede-nos de admitir a realidade. A solução, no entanto, é mais fácil do que parece: basta aplicar a lei, ou seja, enquadrar como crime o que o código penal prevê como crime. Em outras palavras, basta punir com prisão as pessoas que atentam contra a dignidade racial para encerrar o caso. Tudo muito simples, se não fosse a hipocrisia que impede mandar para a cadeia os racistas que se expõem a céu aberto.

PUBLICIDADES
SIGA-NOS
CONTATO
Telefone: (35) 99965-4038
E-mail: comercial@correiodopapagaio.com.br