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Opinião
18/07/2013 10h39

Retratos da Vida (parte VIII)

Piauí

Que possibilidades vocês acham que havia de  encontrar um colega cujo único dado que tinha era o apelido?    

Fico pensando como um Estado pequeno como o do Piauí pode ter sido representado em proporção tão grande nesta história do retrato.

Um dos que participou da foto, por ser de lá, moreno, parecendo descendente de indígenas, de estatura mediana, usando óculos, ficou conhecido para sempre pelo apelido que homenageava seu estado. Jamais consegui me lembrar de seu nome. Nenhum dos outros que encontrava à medida que o tempo passava, tampouco sabia. 

Recordava-me tê-lo visto no ano seguinte ao que entrei na faculdade, mas não sabia em que circunstâncias. Nem mesmo tinha certeza de que estudara Medicina. Não entendia por que ele comia na minha faculdade eventualmente se não estudava lá. Na certa quando fechavam o Restaurante do Calabouço, onde a ditadura matou um estudante de 16 anos, Edson Luís, em 1968, os que comiam lá foram autorizados a fazer suas refeições nos restaurantes da Universidade do Brasil.

Piauí era um gozador de primeira, o que não me agradava, sem deixar de ser seu companheiro e levá-lo certa vez, a seu pedido para almoçar em minha casa. Quando mamãe e tia Sofia o conheceram, perguntaram:

– Você não podia ter arrumado um colega mais bonito?

Um dia, perguntei à Isis, por ser sua conterrânea, se não podia fazer um esforço de memória e se lembrar do nome dele, mesmo sem o sobrenome:

– Não seria Antônio de Pádua? – redarguiu.

Procurei na Lista Online de Teresina, achando três médicos com esse nome. O terceiro parecia ser ele. Disse inclusive que me conhecia do internato em dermatologia, no Pavilhão São Miguel, da Santa Casa, em 1971, mas definitivamente o Piauí que eu procurava não era ele, já que aquele não foi mais visto a partir de 1967. Isso se confirmou por suas fotos, mandadas pela Internet.       

Os dias passavam e eu não tinha outra ideia. Achava que seria o mais difícil para completar meu time...

Resolvi, então, mandar a foto dos onze para o Fernando, médico infectologista e colega da FNM que mora na capital piauiense e que me ajudara a localizar a Isis. Expliquei bem onde ele se localizava e dias depois, veio a resposta:

– O Piauí que você procura seria o pediatra Antônio Carlos Pires Ferreira, irreconhecível, pela gordura atual... Mas aguarde confirmação.

Como sou apressado, com o passar dos dias, pesquisei outra vez na Lista Online e vi apenas um telefone naquele último nome. Logo fiz uma ligação, mas infelizmente não era ele. Então, senti como se minhas forças tivessem sido minadas. Jamais voltaria a encontrá-lo! Claro, a informação do Fernando não fora confirmada e dei minhas buscas por encerradas. Pelo menos um iria faltar...

Tempos depois, recebi outro e-mail do Fernando confirmando que o Antônio Carlos a que se referia era quem eu procurava e me dando seu telefone e o endereço. Acontece que havia naquela cidade dois pediatras homônimos e o verdadeiro Piauí, tinha telefone em nome de outra pessoa.

Falando com ele, imediatamente lembrou-se de minha voz e não teve dúvidas em afirmar quem eu era. Conversou sobre vários fatos de nosso convívio, o que me deixou feliz. Não tinha mais as fotos que lhe foram enviadas para o e-mail da filha. Contou-me que seus três filhos fizeram advocacia e que já tinha uma netinha. Falou que a Isis era a mais bonita da sala. Quando soube do livro, que contava várias passagens com ele, não mostrou nenhum interesse.

No final daquele telefonema, perguntou-me:

– Você ainda é fanático pelo Flamengo?

Minha resposta foi:

– Ainda gosto muito desse time, mas agora tenho preocupações maiores na vida e não posso gastar o pouco tempo que me resta com isso. O que me importa é ter paz, saúde e se o Flamengo ganhar ou não, for campeão ou não, o que isso vai me acrescentar?  

(continua)

(escrito em 2013: tempos depois que escrevi isso, Piauí resolveu comprar um livro. Não pagou e nunca mais deu notícias. No final concluí que deve ter sido porque coloquei o episódio em que minha mãe e minha tia o consideraram feio e que estava registrado no livro.

Quanto ao Fernando, o colega com quem tive a maior amizade nos tempos de faculdade, infelizmente nos deixou no dia 13 de abril de 2013. O vazio em minha alma é imenso. Obrigado, Fernando, por sua amizade! Obrigado por ter me ajudado a localizar dois conterrâneos seus!)

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