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Opinião
14/08/2014 17h54

Saudosista não, amante da vida...

José Luiz Ayres



Informados por um turista quando nos encontrávamos em Friburgo, sobre um belíssimo Hotel Fazenda próximo a localidade de Macuco – RJ, onde fotos e prospectos nos foram mostrados, resolvemos ver de perto aquele paraíso cujas referências fotográficas em muito nos entusiasmavam e, seguimos na busca do deslumbrante pedaço da história que trazia entre os atrativos naturais, o preservado casarão do século XIX e seu acervo de objeto de arte.

Ao chegarmos no hotel, de fato impressionou-nos pela beleza arquitetônica, em que até nos sentimos fora de época tal a preservação sentida pelo impacto.

Pela manhã ao deixarmos o casarão e galgarmos a escada que nos levava ao belo jardim circundante, tivemos a atenção despertada pelo som lamentoso, um pouco distante, de um histórico Carro-de-bois ecoando pelas pradarias verdejantes.

Um senhor ao pé da escada, notando nossa ansiedade e admiração, nos assossegou informando que o mesmo viria até nós, pois era um dos atrativos do hotel, levando hóspedes à passear no lendário veículo.

Junto a nós, o carro puxado por três juntas de portentosos animais de chifres alongados conduzido por um velho carreteiro para a nossa frente. Extasiados diante de doce e bela relíquia, circundei-o acariciando um dos vacuns e seguido de alguns turistas, partimos mal acomodados sobre a plataforma sob o rangido saudoso pelos caminhos poeirento da propriedade.

De volta, em conversa junto ao carreiro, intrigado com a marca a fogo gravada à bordo da plataforma: F. A.L., comecei a esmiuçar o veículo, achando que poderia ter pertencido a Fazenda de Alfredo Leite à cidade de Campanha – MG, onde há quase 50 anos curti parte da infância a pegar caronas, quando carregado de sacas de milho, feijão, café eram conduzidas a Estação Ferroviária.

Na época eu possuía um canivetinho, cujo uso era marcar com minhas iniciais JL/ano, os troncos de árvores, bambus, moirões de cercas, além de descascar laranjas e, recordei-me possivelmente que houvesse efetuado tais marcações em Carros-de-bois no intuito, nas imaginações pueris um dia quem sabe, vê-las e poder sentir a recordar daquela peraltice a transportar-nos ao passado de perene saudade, sem que imaginássemos que seriam extintas talvez pelo tempo.

Na manhã seguinte, ao chegar para um novo passeio no Carro-de-bois, o carreiro chamou-me e pediu que olhasse sob a plataforma no segundo travessão. Estranhando a solicitação, abaixei-me e reparei num espaço limpo, onde se lia J.L/54. Estarrecido, ergui-me olhando o veículo e, emocionado, mal podia articular uma palavra e lágrimas verteram dos olhos pela forte emoção daquele encontro. Havia encontrado há mais de 600 km de Campanha, quase 50 anos depois, um velho amigo de infância ainda a ranger o seu canto triste através dos caminhos poeirentos e lamacentos das terras fluminenses a transportar, agora, turistas em recordações de um passado já bem distante, mas que a mim aquele veículo representa um pedaço da vida curtida na infância.

Moral da história: Um país, um povo, só serão realmente dignos, quando tiverem suas memórias, tradições e cervos históricos preservados através da história.

Ah... Esses “Turistas Amantes da História” quando se defrontam com momentos cujo passado lhes trazem no presente emoções vivas de uma época, mostram-se de fato o quanto a saudade por eles é também preservada, mesmo aos olhos de uma geração virtual que os qualificarão de saudosistas pitorescos...

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