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Opinião
05/02/2015 15h03

“’Sherlock Holmes” de metrô!?!

José Luiz Ayres

Um cidadão, desses que os classificamos como intelecto na nossa “intelectualidade básica”, por possuir atitudes e procedimentos esnobes até discriminatório a destacar-se, ou fazer-se destacados, chegou-se ao loby do hotel portando um livro e sentou-se solicitando do barman um whisky. Ao lado eu e mais dois hóspedes papeávamos descontraídos.

Conversa vai, conversa vem entre ene assuntos, um dos companheiros preocupados pelo nosso vozerio, solicitou que abrandássemos a voz, pois estaria tirando à atenção do cidadão na compenetrada leitura. Quando, talvez a se fazer gentil, o homem virou-se a nós negando qualquer influência, já que se o atrapalhasse não estaria ali. Afinal foi ele que se chegou posteriormente.

Dada a interrupção, após bebericar seu whisky, integrou-se ao nosso “papo-furado”. Ao olhar o livro fechado sobre a mesa, observei tratar-se de um Conam Doyle com o seu imortal Sherlock Holmes e então fiz comentários ao romance, além de revelar ser um leitor empolgado por suas obras ficcionistas, cuja criatividade nos deixa preso à leitura a nos levar a momentos bem agradáveis. Inclusive possuo toda a coleção dos seus romances quase como uma relíquia literária. Torcendo o nariz, disse que apenas passava o tempo em lê-lo só para não perder o “hobby”, pois embora o autor fosse bem imaginativo, muitas coisas escritas extrapolavam as raias da absurdez, não sendo coerente com as verdades do tempo.

Citou como exemplo, uma passagem em que o Sr. Holmes em diálogo com seu assistente, o caro Watson, quando o indicava se utilizar do metrô, na incursão investigatória a ser efetuada, cujo tempo hábil o obrigava à rapidez e que obteve como resposta, por ser mais rápido, se utilizar do tílburi (veículo tração animal assemelhado a uma charrete utilizado como transporte no século XIX). Estranhou ao ler tal citação, já que àquela época não existia eletricidade e, como uma locomotiva a vapor poderia circular “sub-way”, sem que asfixiasse as pessoas pela fumaça e fuligem produzidas?

Achando graça, retruquei ser possível, pois o 1º metrô londrino data dos idos de 1850 com boa extensão subterrânea e, segundo dados históricos, não houve qualquer acidente nesse sentido.

Replicando com sarcasticidade, própria dos intelectos e doutos, contestou e tripudiou as minhas informações, onde refutou com tréplica debochando da fonte sobre as origens metroviárias. Não dando-se de rogado, quis saber onde eu tinha conseguido tal pantomima histórica, pois iria contestá-la tecnicamente tamanha estupidez do autor; o que não acreditava, mas sim do tradutor da obra ao português.

Claro que tal pronunciamento não poderia ser levado a sério, afinal a história para quem quiser saber, basta procurar uma boa biblioteca e tirar suas dúvidas, mesmo que isso seja considerado como “cultura inútil” e estarmos em plena era virtual no século XXI, cuja informação acontece em segundos.

Moral da história: cultura não é necessariamente um dom de intelectualidade.

Ah... Esses “turistas intelectos” que adoram se sobressair junto aqueles supostamente menos inculturas, tentando envolvê-los muitas vezes pelas aparências e palavras envolventes, são de fato uns “asneirólogos” quando se vêem em desvantagem a nos oferecerem instantes “culturalmente” pitorescos...

Elementar meu caro Watson!

 

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