por Filipe Gannam
(Louco para rever minhas paixões da época que constavam de uma lista de mais de setenta meninas, me enraivecia e pensava: − será que este cara não desconfia?).
Engraçado foi um dia em que o ônibus fazia uma de suas habituais paradas para almoço em Três Pinheiros e encontrei o Severino por lá. Tive certeza de que estava num dos ônibus de outra linha, mas ele contou-me que naquele dia, não estava em trabalho estava de férias e em lua-de-mel.
Coincidência ou não, foi neste hotel fazenda que passei minhas duas primeiras noites da lua-de-mel. Só que não podia imaginar isto, tantos anos antes.
Hoje, dificilmente um estudante universitário já não tem o próprio carro, para ir ao Rio, sem necessitar de ônibus, passagens no câmbio negro, submeter-se a horários determinados e outros desconfortos. E, quem vê o conforto e a modernidade dos ônibus atuais, os horários tão aumentados, não pode imaginar a epopeia que era uma viagem para o Rio, naqueles tempos saudosos que se foram e nunca mais hão de voltar.
(Três canhotos de passagens, das centenas que usei durante tantos anos permanecem comigo até hoje. O primeiro, do dia 13 de março de 1966, domingo, quando embarquei à tarde para o início de meu curso na Faculdade Nacional de Medicina. O segundo, de setembro daquele ano, quando, com muita alegria, vim passar a Semana da Pátria aqui. Armando, meu colega, escreveu uma mensagem de boa viagem atrás e nunca quis jogá-la fora. O último deles, de 2 de abril de 1974 foi de uma viagem que fiz até Resende, onde, naquela data iria inaugurar o consultório. Naturalmente, o bilhete, já, da Santa Bárbara, não era quebrado e constava nele uma viagem até o Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que fui para aqueles lados e não cheguei até a capital. Existe também um retrato tirado na entrada lateral da faculdade. Eu abria um largo sorriso, o que não é normal, principalmente em fotografias e acenava com duas passagens uma minha e uma de minha irmã. Eram os últimos dias de aula de 1966).
(Não posso deixar de registrar a doce lembrança de um dia qualquer, no outono de 1974 quando o letreiro de meu primeiro consultório foi substituído. Quando eu o abri, coloquei um que era feito de isopor, com as letras pintadas. Era moda em Resende. Dias depois, pelo sol e pela chuva, estava todo desbotado e feio. Encomendei de um gaúcho, Nilton, grande pintor de quadros e outras coisas, que residia num porão de meu pai e que era muito inteligente, um belo letreiro pintado à mão. Marquei o dia para que fosse enviado pelo ônibus da Santa Bárbara. Fui andando de meu consultório até a Dutra (não era longe, bastava atravessar a Estrada de Ferro), o motorista “Azeitona” parou e o menino que eu havia contratado para carregar o letreiro até lá, pegou- o no porta-malas e lá fomos nós...).