Por Gislene Vilela
Final e começo de ano sempre são épocas de balanço, confraternizações, sonhos, esperanças, expectativas, revisão de vida...
Início de 2019: cá entre nós, no Brasil, tragédias como a do rompimento da barragem da Vale na Mina Córrego do Feijão em Brumadinho (MG); temporal e alagamentos no Rio de Janeiro; incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo - Ninho do Urubu; o acidente de helicóptero que resultou na morte do jornalista Ricardo Boechat e do piloto Ronaldo Quattrucci ...
Acontecimentos que deixaram mortos. Episódios que vão muito além do sofrimento das famílias, amigos e conterrâneos que precisam lidar com a angústia e a dor da perda.
Tragédias que tiveram extensa cobertura da mídia gerando comoção nacional e causaram reações diversas nas redes sociais. Como militante da imprensa, infelizmente, tenho observado a fragilidade humana e o tempo efêmero do impacto e da indignação pública diante de tais fatos. Um tempo que dura até a divulgação midiática da próxima tragédia. Veja-se o exemplo da barragem em Mariana (MG). Claro que existem exceções.
Independente das dificuldades econômicas, políticas, conflitos, infortúnios, impunidades, negligências e tantas outras ocorrências que nos tiram do equilíbrio, urge “tocar o barco” como dizia o já saudoso jornalista Ricardo Boechat.
Como tocar o barco nessas águas turbulentas? O que podemos tirar de lição? Seria suficiente cobrar das autoridades constituídas leis mais rígidas e respectivo cumprimento? E a nós, cidadãos, atitudes proativas, ação preventiva, empatia verdadeira, fé para prosseguir, nutrir emoções benéficas e construtivas?
Tais acontecimentos não são anormalidade. Vão continuar acontecendo em menor ou maior proporção. Mas podemos nos manter firmes apesar das circunstâncias. O tempo passa muito rápido e não deve ser desperdiçado. Aproveitar as oportunidades, livrar-se dos pensamentos inoportunos, despertar dessa inconsciência coletiva negativa acreditando em si mesmo e em seus sonhos. Na sabedoria divina... Tudo isso faz tocar o barco.
Seguem dois fragmentos do último comentário de Boechat na Rádio Bandnews sobre as tragédias recentes:
“...O que a gente tem que colocar em cima da mesa diante de nós mesmos como sociedade é se nós queremos continuar lidando com essas tragédias pleiteando-as no início e esquecendo-as logo depois...”.
“... E quando a gente chora, sofre, lamenta o fato ocorrido ontem, a gente parece estar anestesiado ou gostar da anestesia que nos faz esquecer desse fato tão logo surja o fato de amanhã que terá o mesmíssimo tratamento...”
Não poderia finalizar sem prestar uma homenagem a Ricardo Boechat - um dos maiores jornalistas do Brasil - que deixa um legado extraordinário e exemplar. A despeito de tudo – sua ausência – continuará a repercutir em todos nós, seus admiradores, a defesa da ética, sua coragem de dizer o que pensava com embasamento, sua posição firme e verdadeira, sua inteligência aguçada, sua competência inquestionável, seu humor fino, sua imparcialidade, seus comentários lúcidos e coerentes... Tocando assim o barco, até alcançar a praia.