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Opinião
25/06/2016 10h34

Todo colecionador tem a sua história

 Por José Luiz Ayres

Revia os meus guardados, quando me deparei dentro do estojo reservado às canetas-tinteiro; hoje fora de uso dada à dificuldade na obtenção de tintas, dois lápis de propaganda, os quais me trouxeram à lembrança minha saudosa coleção de lápis, onde na década de 50, como criança, iniciei a colecioná-los como “hobby” dando continuidade até à década de 80, quando me desfiz após visitar uma feira de excentricidades que era levada no prédio do ex-Centro Cultural do Automóvel Clube no Rio de Janeiro.

Entre os expositores e suas coleções como: caixinhas de fósforos, xícaras, pires, carteiras de cigarros, rótulos de bebidas entre a gama de objetos, lá estava seu Percival expondo sua coleção de lápis e caixas de fósforos, o que me chamou a atenção, pois veio de encontro ao meu “hobby” que também como ele era um aficionado. Claro que me apresentando como um correlato nos produtos, pois além de lápis colecionava caixinhas de fósforos, acabamos nos entendendo a negociar minhas coleções, que na oportunidade em lápis e caixinhas eram constituídas de 800 a 650 unidades. Embora um tanto triste por me desfazer, afinal foram mais de 30 anos a obter considerável acervo, no que pese à atribulada negociação, chegamos a bom termo, já que a dedicação na aquisição destes materiais se escasseava diante das novas formas publicitária a torna-se difícil obtê-los.

Mas aquele encontro foi promissor em termos de curiosidades, onde seu Percival passou a narrar os momentos vividos para conseguir fazer expandir suas coleções. Uma dessas narrativas, me foi interessante, vez que veio ampliar meu acervo de episódios inerentes aos trens, onde se viu em palpos de aranha para conseguir um lápis e uma caixinha de fósforos, o qual pôs-se a narrá-lo.

Contava que sendo funcionários dos Correios e Telégrafos; inicialmente na função de carteiro, tinha a facilidade em conseguir seus objetos garimpando nos locais onde entregava as correspondências diárias; o que ocorreu por 5 anos na década de 50. Posteriormente, foi deslocado como postalista a exercer a nova atividade no vagão carro-correio na linha Rio – São Paulo no trem Vera Cruz. Nessa época, teve a sorte em conhecer outros colecionadores em diversas estações férreas no ramal, onde efetuavam suas trocas nas duplicatas Todavia, havia à estação de Cruzeiro, SP, um rapaz de nome Mateus, que se destacava por ser um colecionador importante dada à facilidade em obter seu material pelo vasto conhecimento que tinha com inúmeras pessoas, inclusive oriundas de Minas; por ser ali entroncamento ferroviário, a se prontificarem a trazer de suas cidades interioranas seus brindes publicitários.

Numa ocasião, Percival na ânsia de encontrar Mateus, deixou o vagão e saiu à sua procura, já que o tempo de parada do Vera Cruz era de 5 a 10 minutos para embarque e desembarque. Encontrando-se com o rapaz, efetuaram suas trocas de objetos. Só que Mateus ficou devendo um lápis e uma caixa e solicitou que o esperasse que iria apanhá-los. Deixando-o esperando, lá foi apressado pela plataforma. Não tardou, ecoou o silvo anunciando à autorização da partida do trem. Percival aflito a olhar a estação já escassa de pessoas, escuta o apito da máquina avisando da partida, quando vê Mateus em disparada se aproximando. Percival por sua vez começa a correr em direção ao seu vagão e com grande esforço Mateus se chega e o entrega o prometido com a trem já em movimento. Continuando a correr, espavorido, em total desespero correndo grande risco, pois o dia chuvoso deixava as ferragens escorregadias, se lança num pulo à escada externa do vagão agarrando-se aos balaustres. Tentando se equilibrar, aciona a maçaneta da porta e vê a surpresa! Estava trancada, pois a porta de entrada era à frente no vagão junto a máquina. Apavorado, sob forte tensão a equilibrar-se aos pequenos degraus molhados e escorregadios, agarrado aos balaustres, tenta colocar no bolso os objetos passado por Mateus e a muito custo os introduziu ao bolso da camisa, que a essa altura se encharcava pela incidência da chuva, independente do pavor em se tornar um pingente a assustar-se de quando em vez pelos arbustos, vegetação e postes ao longo da via margeante ao trem.

Depois de vários quilômetros percorridos agarrado ao trem, finalmente chega à estação de Caçapava, onde aliviado deixa o local, dirigindo-se trôpego à porta de acesso do vagão e se introduziu a fazer as entregas das malas postais ao colega que à plataforma se chegou.
Já em viagem, após trocar a roupa molhada, retira da sua mala uma pequena imagem de São José e, em contrita oração, agradeceu ao santo protetor a graça recebida pelo momento desesperador que passou. A seguir, finalmente foi ver suas trocas, retirando do bolso da camisa posta a secar, onde sacou os dois objetos motivo daquele instante aflitivo e qual sua surpresa ao ler a propaganda da caixa de fósforo e a exposta no lápis. Panificadora São José da cidade de São José dos Campos, SP!

Retirando do acervo os objetos em exposição, mostrou-me a dizer que não se desfazeria nunca desses abençoados objetos, pois representam muito em sua vida.

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