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Opinião
13/08/2010 15h19

Trem, o pau pra toda obra

Trem, o pau pra toda obra

Curtindo Caxambu a desfrutar do aprazível Parque das Águas, por gentileza me prontifiquei a auxiliar um casal que tencionava, como nós, beber água da fonte Dom Pedro.

Agradecido pela referência, juntos seguimos a caminhar proseando sobre prazeres que as cidades hidrominerais proporcionam aos seus visitantes, notadamente pela hospitalidade. Muito embora o senhor Edgar, como se apresentou, fosse mineiro oriundo de Alfenas, dizia que poucas foram as vezes que ali, em Caxambu, esteve, pois por ter sido Delegado de Polícia, tinha sua vida cheia de atribuições, cuja responsabilidade pelo cargo lhe roubava quase toda a disponibilidade em usufruir de um fim de semana, mesmo havendo naquela época uma maior tranquilidade em relação aos dias atuais, em que as ocorrências policiais se intensificaram sobremaneira.

Sentindo que ali talvez pudesse obter subsídios com relação ao meu propósito, identificando-me como pesquisador de histórias do Trem das Águas em São Lourenço – efetuou por duas vezes o passeio – resolveu contar-me, entre tantos episódios, um que marcou sua carreira policial quando iniciante na polícia como detetive investigador, na década de 50.

Ávido por querer mostrar suas qualidades policialescas, jovem impetuoso e destemido, foi destacado com mais dois colegas a procederem a uma diligência investigatória na cidade de Monte Belo, onde diziam estar acoitado um perigoso ladrão de gado; um tal de Terêncio. Tiveram sorte, pois em três dias de investigações e buscas, puderam prender o homem e seu cúmplice. Claro que aquele feito o fez sentir como um verdadeiro Dick Trace, lendário detetive, herói de histórias em quadrinhos. Trancafiados à cadeia local, tiveram ordens pelo telégrafo da ferrovia Rede Mineira de Viação (RMV), mais rápido, para transportá-los a Alfenas pelo trem, já que a delegacia não dispunha na época de viaturas para isto. Aliás, o trem servia para tudo. Postos no trem, algemados às poltronas pelos pés e mãos, escoltados, chegaram a Alfenas, onde na estação um reboliço acontecia, com alguns fazendeiros e peões, - vítimas do meliante – revoltados, queriam “justicá-lo” a todo custo e estavam sendo contidos por soldados para evitar a invasão do vagão. A muito custo retirou-se o Terêncio, que foi conduzido e protegido para a delegacia sob rigorosa escolta, seguido dos enfurecidos vitimados.

Na confusão formada na delegacia, o delegado eufórico enaltecia a bravura e o profissionalismo dos “tiras”, dando os tradicionais “tapinhas” às costas dos seus agentes, que orgulhosos e envaidecidos, cada vez mais sentiam-se uns autênticos Dick Traces, dando a atenção àqueles que se chegavam, tentando saber como conseguiram prender o perigoso ladrão. Passado algum tempo, entre depoimentos, procedimentos legais e, óbvio, as bravatas tradicionais na ação policial sobre a captura, de repente furando a massa de gente que ali se aglomerava, um agente da ferrovia apresenta-se e entrega ao delegado uma mensagem telegráfica, a qual perguntava o que fazer, pois havia um homem algemado à poltrona de um vagão. O telegrama era da estação de Bom Jardim do Campo. Foi a maior confusão. Não é que se esqueceram de trazer o cúmplice do Terêncio no afã de levá-lo, livrando-o do tumulto da estação de Alfenas!

Conclusão, o trem foi obrigado a parar por algum tempo para alguém remover as algemas do preso e mantê-lo sob custódia na estação aguardando a escolta do destacamento local. Com isso, o tráfego de trens ficou interrompido, atrasando aqueles ramais, cujas consequências a RMV teve de arcar como sendo “culpada” pelos maus serviços prestados. Quanto aos “Dick Traces”, foram punidos pela negligência e tiveram que arcar com o ônus e as custas em trazer o preso a Alfenas. Lógico que o trem foi a solução, afinal era ele o pau p’ra toda obra.


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