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Opinião
26/06/2014 15h20

Um mundo melhor

Fátima Garcia Passos

Por Fátima Garcia Passos

Na penúltima vez em que estive na Europa no museu do Prado, em Madri, ouvi de um argentino uma frase: Es mui guapa, no pareces brasilena, Brasil solo tem macacos. Confesso que fiquei muito ofendida e até escrevi um artigo sobre o fato. Todavia aqui dentro e outras vezes lá fora muitos são os que duvidam da minha nacionalidade. Mas por quê?

Há um consenso geral e politicamente correto que só podemos ser negros ou mestiços. Contudo várias etnias adentraram nosso território desde o período colonial. Aqui já havia os autóctones, então chegaram os portugueses e logo após os negros como escravos, mas também franceses no Maranhão, holandeses em Pernambuco etc. No império, suíços chegaram a Petrópolis e libaneses em muitos lugares. Na República, alemães, suíços, italianos, poloneses, austríacos chegaram à região sul. Na Nova República chegaram levas de japoneses e hoje chegam coreanos, chineses, bolivianos e etc. Ou seja, não é uma cara que nos define, mas um “modus vivendi” . Não há porque nos rotularem ou definirem desta ou daquela forma para propagar a mentira de uma democracia racial.

Muitos desses grupos étnicos optaram por se miscigenarem entre si. São racistas? Não, são livres para viverem suas próprias escolhas.  Não se pode enfiar guela abaixo estéticas, costumes, jeitos de viver. Há no Brasil mais de mil micro comunidades indígenas vivendo com seus dialetos em seus respectivos espaços, conquistados há duras penas ao longo de décadas  desde que o Marechal Rondon iniciou o processo indigenista no começo da República. Há comunidades de quilombolas que também foram reconhecidas pelo Estado.

Portanto somos um belo mosaico, não um compacto homogêneo como tentam nos impor, mas diversificados e espalhados pelo território como bem coloca o antropólogo Darcy Ribeiro no livro “O povo brasileiro”. Certa feita uma bonita aluna disse-me no Colégio Euclides da Cunha em Juiz de Fora: Eu sou negra e meu marido também. Nossos pais sempre nos disseram que devíamos valorizar a união de nosso povo. Minha irmã que não o fez, hoje está na casa de meu pai que cria seus filhos, pois seu ex-marido branco largou o emprego para não pagar pensão. Sumiu a conselho de sua mãe. Contudo esta não pode ser uma regra.

Mas assim como houve uma expansão da educação pública com uma baixa qualidade de ensino, da mesma forma há uma tentativa de achatamento como se fossemos massa em que todos os ingredientes formarão no futuro um bolo compacto. Todavia,  há os que gostam de samba,churrasco na lage e etc. e outros que têm o direito divino de gostarem de MPB, música clássica, instrumental e etc . Porque o mundo vertical é público e neste devemos respeito uns para com os outros, já o mundo horizontal é privado, portanto problema ou solução particular que a ninguém diz respeito.

Cada micro comunidade tem o direito de viver como gosta sem, contudo tentar impor-se às demais e se a História não discriminou física, intelectual ou socialmente a alguma isto não quer dizer que estas também não sofreram porque cada um no seu canto sofre o seu pranto, sem necessariamente conta-lo a quem quer que seja. Portanto, hoje se alguém lá fora se espantar quando eu lhe disser em sua língua que sou brasileira, responderei: No meu país também tem brancos. E se hoje não somos uma maioria devido ao logo processo de imigração, nem todos somos corruptos, indolentes, racistas e imorais. Há entre nós gente que trabalha que faz História, e luta pela construção de um mundo melhor.

Fátima Garcia Passos é pós-graduada em Ciências da Religião e mestre em Filosofia

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