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Opinião
09/10/2014 16h45

Uma noite e o trauma de Laurindo

José Luiz Ayres

Recebendo aqui em São Lourenço a visita de um amigo, o qual não o via há vários anos e trocarmos conversas sobre a vida e momentos atuais neste longo período de desencontro, fui surpreendido com a revelação que já  algum tempo, ser leitor; via INTERNET, das minhas crônicas “Na Fumaça do Trem” levadas no Jornal Correio do Papagaio, as quais vêm de encontro ao seu passado de saudosas recordações, onde como funcionário e lógico ferroviário da Rede Ferroviária Federal, serviu até se aposentar com a paralisação das atividades da empresa.

Dizendo-se um abnegado ferroviário, prima ainda pelo interesse nas coisas que dizem respeito aos trens, principalmente, episódios como tão bem venho apresentando aos leitores, os quais alguns se assemelham aos por ele conhecidos e até vivenciados. Baseado nesses elogios eloquentes que me faziam lisonjeado, pôs-se a narrar um fato que na época, dada a perplexidade nas raias do inacreditável ter ocorrido; o que hoje não seria novidade em causar admiração e espanto, com um colega de trabalho, o que fez por isso tornar-se motivo de chacota.

Contou que esse cidadão de nome Laurindo, foi transferido de Belo Horizonte para a Direção Geral, no Rio de janeiro, a deixar seus familiares em Minas enquanto adaptava-se a nova vida carioca. Porem, dada a distância, a cada mês, saudoso, ia visitá-los num fim de semana se utilizando como locomoção o famoso expresso noturno Vera Cruz, graciosamente em ida e volta pela ferrovia.

Numa oportunidade, o foi ofertado uma cabine dupla, o qual satisfeito, no dia da viagem lá estava ansioso à plataforma bem cedo, à espera da chegada da composição que logo aportou à estação. Embarcado, dirigiu-se pelo vagão a cabine, onde sentou-se à poltrona no aguardo do outro ocupante no intuito de verificar quem se utilizaria das camas; superior  ou inferior, já que sua passagem de cortesia não previa a quem determinava. Não demorou, abrindo a porta, um simpático e cordial cidadão de meia idade entrou, a dizer que iria compartilhar com ele à viagem. Escolhidas as acomodações, coube a Laurindo a cama superior e permaneceram a papear, onde o agradável cidadão revelou ser um padre. Um tanto reticente, afinal um religioso era necessário se ter cuidado às coisas a serem ditas às conversas. Cuidadoso, Laurindo manteve-se mais a ouvi-lo do que a falar possíveis incongruências, pois o padre comunicativo mais parecia um cidadão comum, cujo deslize a ser cometido seria inevitável, tal a locução franca e natural entre eles.

Com o tempo passando, Laurindo, com educação, sugeriu que se recolhessem, pois o sono e o cansaço davam sinais que os corpos deveriam repousar. No que houve concordância. Com o tradicional: durma com Deus, Laurindo acomodou-se após trocar as roupas pelo pijama subindo a sua cama. Cerrando a cortina da janela o padre apagou a luz acomodando-se ao seu leito. Pela madrugada, de repente Laurindo abre os olhos, sem ver nada pela escuridão presente e sem barulho desce os degraus penetrando no minúsculo toalete visando urinar. Procedida a necessidade, retorna ao leito preocupado em não acordar o padre que ressonava a sono solto. Mal pegava no sono, Laurindo sente algo a tocá-lo. Meio tonto e sonolento, tenta retornar ao sono, quando novamente sente novo toque. Assustado, mais que depressa, em ato reflexo, segura a mão do padre que o bolinava. E, quase sussurrante ouve: - Amigo, não se surpreenda e se preocupe. É apenas um carinho que me levou a tocá-lo!

Elevando-se em total perplexidade, Laurindo pula da cama e acende a luz a olhar o religioso de ceroula quando o mesmo o fala: – O ambiente solitário desta cabine nos conduz ao prazer, o qual após partilharmos, eu darei sob confissão a absolvição sem penitência.

Moral da história: Laurindo aturdido, abismado sem dizer uma só palavra e sem reação diante da cena o qual de forma inacreditável passava, retornou ao leito sem que conseguisse dormir, obviamente, e seguiu o resto da viagem apalermado até Belo Horizonte.

De retorno ao Rio de Janeiro ainda sob tensão e confuso, contou-nos o seu drama e por isso passou a ser pelos colegas de trabalho, gozado por muito tempo, principalmente enquanto viajou a BH até sua família vir morar no Rio de Janeiro.

Entretanto, o trauma por religioso permaneceu enraizado em seus conceitos, a ponto, segundo revelou, de não ir mais às cerimônias religiosas como; missas, batizados e casamentos. Porém, como católico que era e temente a Deus, sempre que podia, comparecia à igreja de São Jorge, no Campo de Santana a pedir a Deus perdão por tais atitudes intempestivas.

 

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