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Opinião
28/08/2014 09h51

Vagão foi palco de traição - II (final)

José Luiz Ayres

Por José Luiz Ayres

Com quase 45 dias após o ocorrido no trem que transportava Luiz a Barra Mansa – RJ, onde fora envolvido em um episódio desagradável, porém de certa forma humoroso, em que se viu obrigado a dar uma de ator, lá estava novamente a bordo do expresso com destino a Ribeirão Vermelho a executar suas tarefas profissionais, embora à mente o fazia relembrar daquele inusitado momento o qual se manteve em apuros sob o julgo da mentira, talvez providencial, a evitar duras e danosas consequências aos envolvidos.

Seguia o trem na sua morosidade e balanço constantes com seus apitos a ecoarem vez por outra, quando aporta à pequena e simpática estação de Passa Vinte a trazer a Luiz vivas recordações vividas, quando pela última vez ali passou. O trem aquele dia mostrava-se com poucos passageiros a bordo do vagão e somente duas pessoas embarcaram. Entretanto causou estranheza o procedimento de um cidadão ao sentar-se à poltrona na sua frente, vez que haviam muitos assentos disponíveis.

Absorto, descortinando as paisagens, eis que de súbito tem a tenção desperta pelo tal cidadão, que ao olhá-lo, Luiz surpreso o atende ao ser indagado se não o conhecia. Fixando-o, após alguns segundos, o responde que não, mas algo dizia que não era estranho, pois possivelmente já o tê-lo visto durante suas andanças. O homem solicitou se poderia sentar-se a seu lado, no que foi atendido. Acomodando-se, disse ser o marido da dona do comércio de tecidos e armarinho em Andrelândia; Fulana de tal. Luiz um tanto pasmo, por minutos arredio pela revelação, o responde: - Sim, a conheço, mas não me recordo em vê-lo na loja. Talvez tenha me passado despercebido, me perdoe a falta. Esboçando leve sorriso, tocando ao braço de Luiz a pronunciar o seu nome revelado por Bárbara, põe-se a conversar. Primeiramente dizia ele, confesso que me intrigou quando Bárbara o acenou e jogou beijos ao deixar o trem. Todavia, após contar-me todas as agruras passadas por vocês, só tenho a lhe agradecer por tudo. Aquela encenação causou boa repercussão e minha mulher até pediu desculpas pelo que fez duvidando das minhas viagens a Passa Vinte. Inclusive se sentiu envergonhada ao saber que Bárbara era sua “noiva”, o que a deixou desolada pelo vexame naquele dia proporcionado pela sua desenvoltura teatral encenada. Segundo confessou, gostaria de se desculpar. Por isso ao vê-lo aqui, poderia se fosse possível, ir agora à loja visitá-la a apresentar as novidades da Capital e aguardasse à visita de Bárbara, cujo encontro “casual” seria bem convincente a dirimir qualquer dúvida a contradizer as alcoviteiras beatas sobre a dita traição a julgá-la uma traída pelos encontros secretos em Passa Vinte.

Depois de ouvir aquela “confissão”, cuja vontade momentânea era de se insurgir tal a indignidade mostrada, mas por outro lado estavam em jogo às vendas de tecidos, Luiz engoliu em seco e olhando ao adúltero, pediu que o retirasse desse imbróglio, já que não compactuava com este tipo de coisa, mesmo que visse acarretar perda de freguesia de boa qualidade em detrimento de uma farsa como se viu obrigado pelas circunstâncias na ocasião em aceitá-la.

Em Andrelândia, o cidadão ao deixar o trem e solicitar de Luiz que o acompanhasse, obteve em resposta que levasse os cumprimentos a Bárbara e sua ultrajada mulher, pois seguiria viagem em paz com a consciência nesta peça teatral que a vida em si impõe a cada ator; principal ou como coadjuvante, ou simplesmente mero figurante neste cenáriodiversificado em que nos apresentamos no nosso cotidiano em epílogos às vezes complicados.

 

 

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