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Opinião
21/08/2014 20h28

Vagão foi palco de traição (1° parte)

José Luiz Ayres

Por José Luiz Ayres

Lendo a edição 835, em que veiculava dado ao destaque a total recuperação da ex-estação ferroviária de Andrelândia, a qual evidente foi um marco histórico atendendo a gente interiorana aexatamente um século do percurso férreo no ramal Ribeirão Vermelho a Barra Mansa – RJ, onde em fotos mostra a edificação e bem como o logradouro circundante recuperado e estruturado a receber as novas atividades culturais destinadas, me veio à lembrança uma passagem contada por meu saudoso pai Luiz Ayres, ocorrida ao final da década de 30, quando ali embarcado no trem se viu em palpos de aranha em situação constrangedora e complicada que fora obrigado, por circunstâncias, a passar.

Segundo Luiz, numa vez dada às obrigações profissionais como representante comercial da ex-fábrica de tecidos Bangu, após fazer à praça sul mineira pelas cercanias de Ribeirão Vermelho, embarcou no expresso com destino a Barra Mansa de retorno a Capital Federal. Ao chegar à cidade de Andrelândia, uma mulher se mostrando um tanto apavorada e nervosa, se senta ao seu lado a olhar ressabiada pela janela, como procurasse por alguém e em seguida retira da bolsa uma estola, onde a envolveu sobre a cabeça e pescoço, acomodando-se a encostar sua cabeça ao ombro de Luiz. Um tanto atônito, sem entender o motivo, espanta-se a olhá-la e indaga o que estava ocorrendo. De pronto a descontrolada mulher, quase num sussurro incompreensivo, o responde que daquele momento em diante será o seu “noivo” e confirmasse, caso viesse a ser abordado por alguém ali no vagão. Preocupando-se ainda mais, afinal estava sendo envolvido em algum imbróglio sem que soubesse ao menos o nome da “noiva”, a desinsofrida se apresenta a dizer chamar-se Bárbara. Ele confuso se apresentou como “Benedicto”, o nome de seu pai. De repente, penetra no vagão o chefe do trem seguido de uma gorducha e um policial fardado. Bárbara ao vê-los, se comprime ao corpo de Luiz enleando o braço ao seu tórax e pede que a acaricie e a beije no rosto. Sem ação pela cena teatral que o pegava de surpresa, sem entender nada, procurou encenar o seu papel solicitado, quando os três param ao lado da poltrona, cujo chefe do trem educadamente pedindo desculpas, solicita da mulher a se explicar, pois a senhora acompanhada do policial, queixava-se que ela é a amante do seu marido e soube que iria encontrá-lo em Passa Vinte, onde o dissera ir comprar insumos agrícolas.

Luiz ao olhar a ultrajada e indignada, a reconheceu, pois era sua freguesa no armarinho. Procurando conter o riso, a cumprimentá-la, no que a respondeu um tanto confusa e escuta de Luiz que Bárbara era sua noiva que o acompanhava até Barra Mansa como habitualmente procedia e não podia crer no que estava sendo acusada. O policial um tanto acuado diante do que ouvira, vira-se a mulher gorducha e fala: - Então como ficamos senhora? Acho que houve engano à pessoa procurada, já que a mulher é a noiva do seu conhecido!

A gorducha mesmo mostrando dúvidas, sorrindo amarelo, deu de ombro, meneou a cabeça a desculpar-se de Luiz e deixou o vagão juntamente com os acompanhantes que se limitaram a se entreolharem sem nada a dizer. Não demorou, soou o apito, o trem partiu com Bárbara a se desenroscar do corpo de Luiz sob um sorriso matreiro e maliciosose expressa: - Obrigado Benedicto; digo Luiz, você me salvou de boa. Foi melhor do que esperava. Sua interpretação foi digna de um ator de fato.

Inconformado, Luiz que se viu em apuros, exigiu de Bárbara toda a verdade, pois se comprometera com a boa freguesa ao mentir e se sentia constrangido. Sorrindo, a “adúltera” o revelou que de fato tem um romance com o marido da gorducha há tempo e alguém descobriu, inclusive revelando nossos encontros em Passo Vinte. Certamente sua presença no trem acompanhada de um policial visava um flagrante de adultério. Coisa na época válida como prova numa separação.

À estação de Passa Vinte ao deixar o trem e encontrar-se com o amado que a aguardava a um canto da plataforma, acenou a Luiz jogando-lhe beijos, possivelmente em agradecimento, e lógico ter que se explicar bastante pelo gesto afetuoso executado e as consequências havidas. Em quanto isso, Luiz amargurado, remoía em sua consciência a insensatez praticada por um ato insano que se viu obrigado em proceder, que poderia lhe causar a perda de uma compradora de boa qualidade pelo comprometimento em acobertar tal episódio amoroso, cujo desenrolar dos fatos se seguiram na próxima semana...

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