21/07/2022 08h40
Agente vira réu em assassinato de petista; MP vê 'divergência política' no crime
O agente penal federal Jorge Guaranho se tornou réu nesta quarta-feira, 20, pelo assassinato do tesoureiro do PT Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu. O juiz Gustavo Germano Francisco Arguello, da 3.ª Vara Criminal da cidade, aceitou a denúncia do Ministério Público Estadual, no Paraná (MP-PR), feita nesta terça, 19, de homicÃdio duplamente qualificado e citou que o crime foi cometido em razão de "preferências polÃtico-partidárias antagônicas". Guaranho é bolsonarista.
Em uma das qualificadoras do assassinato, a Promotoria considerou motivo fútil e não torpe como constava no inquérito policial, concluÃdo no dia 15 deste mês, cinco dias após a morte de Arruda. O petista foi morto durante seu aniversário, que ocorria em um clube da cidade, e tinha como tema o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT. A segunda qualificadora foi a de colocar em risco mais pessoas que estavam na celebração. A troca da qualificadora não altera a pena do agente penal que pode variar de 12 a 30 anos de cadeia.
"O crime de Guaranho foi um homicÃdio gravÃssimo, duplamente qualificado, notoriamente praticado por divergências polÃtico-partidárias, o que o torna motivo fútil e que colocou em risco a vida de outras pessoas", disse o promotor Tiago Lisboa, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). No mesmo dia em que Guaranho se tornou réu, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se encontrou com um dos irmãos de Arruda.
No inquérito apresentado pela PolÃcia Civil, os momentos em que o agente penal chega ao à festa de aniversário, é repelido, depois volta e atira no petista são divididos. Segundo o inquérito policial, depois de ir até o local com seu carro em que estavam a mulher e o filho de três meses para provocar as pessoas com uma música que fazia alusão a Bolsonaro, ele foi atingido por terra atirada por Arruda. O atirador só retornou, disse a polÃcia, por ter se sentido "humilhado".
Na denúncia, o MP-PR entende que há uma só dinâmica e que o crime foi cometido em razão de "motivação polÃtica externada pelo agressor (Guaranho)". Segundo a Promotoria, o depoimento de uma testemunha, que fazia a vigilância do local e disse ter escutado o agente penal gritar "aqui é Bolsonaro" antes de efetuar o primeiro disparo contra Arruda, foi fundamental para a conclusão da denúncia. O advogado da famÃlia de Arruda concordou com o teor da denúncia do MP.
"Entendemos que foi fundamental pelo Ministério Público de que a motivação polÃtica nesse caso do primeiro momento e segundo, quando Guaranho retorna ao final da festa e efetua os disparos é a mesma", avaliou o advogado Ian Vargas, que pretende atuar como assistente de acusação durante o julgamento do agente penal, que pode ir a júri popular.
A defesa de Guaranho não havia se manifestado até a publicação deste texto.
Qualificadora
Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, o motivo torpe que consta no inquérito da PolÃcia Civil está relacionado à desqualificação vil e cruel da vÃtima, que desmerece o sujeito. Já a fútil implica uma desproporcionalidade da reação. "Acredito que a mudança ocorreu porque na visão da acusação, matar por preferências polÃtico-partidárias antagônicas (ou ódio polÃtico), é algo desproporcional, insignificante, mesquinho", disse o advogado criminal mestre e doutor em direito penal pela USP, Cristiano Maronna.
Professor da FGV-RJ e conselheiro do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), Thiago Bottino corrobora a tese. Para ele, o MP muda o entendimento por entender que seria mais fácil enquadrar a motivação polÃtica como uma futilidade. "Dentro da estratégia, ele (MP) acha que é mais fácil acusar por motivo fútil", disse.
Novas diligências
Na segunda-feira, a Promotoria pediu para que a Justiça autorizasse a devolução do inquérito à PolÃcia Civil. Promotores querem que os investigadores ouçam de novo uma testemunha, que tem acesso à s câmeras do clube onde havia a festa e mostrou as imagens do evento, pelo celular, ao agente penal.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo