02/10/2022 08h00
Maior eleição da história é marcada por polarização, embates e questionamentos
Em uma das eleições mais polarizadas e turbulentas já realizadas no PaÃs, 156,4 milhões de eleitores estão aptos para escolher nas urnas, neste domingo, 2 de outubro, seus representantes no Senado Federal, Câmara dos Deputados, assembleias legislativas e distrital, governos estaduais e presidência da República.
O número recorde de pessoas aptas a votar, um contingente de 9,1 milhões a mais se comparado a 2018, quando eram 147,3 milhões de eleitores inscritos na Justiça Eleitoral, torna essa eleição a maior da história do Brasil. Como em pleitos anteriores, as mulheres representam a maioria do eleitorado, totalizando 53%. O aumento do eleitorado foi particularmente expressivo nas faixas etárias nas quais o voto é facultativo, jovens entre 16 e 17 anos e idosos acima dos 70 anos. Cerca de 2,1 milhão de jovens nessa faixa etária garantiram o direito de ir às urnas, enquanto na faixa dos idosos, o total de eleitores chega a 14,8 milhões.
Uma novidade nas eleições deste ano é a uniformização do horário de votação em todo o PaÃs, por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As seções eleitorais serão abertas à s 8h e os trabalhos serão encerrados à s 17h, no horário de BrasÃlia.
Com o horário unificado, seções eleitorais de Rondônia, de Mato Grosso, de Mato Grosso do Sul e de Roraima, por conta do fuso horário, abriram neste domingo uma hora antes, à s 7h, no horário local. Boa parte das seções do Amazonas também iniciou a votação à s 7h, mas como algumas localidades seguem o fuso horário do Acre, as seções abriram à s 6h. Em Fernando de Noronha (PE), a votação será iniciada à s 9h do horário local, a fim de coincidir com o horário de BrasÃlia. A divulgação dos resultados será iniciada à s 17h.
Na maior eleição já realizada no PaÃs, a lisura do processo eleitoral brasileiro e a segurança das urnas eletrônicas foram colocadas em xeque, sem provas, pelo atual mandatário e candidato à reeleição pelo PL, Jair Bolsonaro. Nos confrontos com seu maior oponente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto e, matematicamente tem a probabilidade de conquistar o Palácio do Planalto neste primeiro turno, o presidente da República diz que se não for reeleito, é porque tem algo errado com as urnas.
Com esse discurso contra um sistema que o colocou no Palácio do Planalto em 2018, Bolsonaro levantou muitos questionamentos sobre a maneira como vai receber o resultado das urnas. Ele já disse que passará a faixa presidencial ao sucessor, se não for eleito, mas sempre que tem uma brecha, discursa em tom contrário ao que prega a democracia.
"Estamos vivendo uma das eleições mais disputadas e violentas da história, já tivemos assassinatos e tentativas, agressões em locais públicos, por questões partidárias, e tudo isso está criando um clima de mal estar enorme e evitando a expressão do maior legado da democracia, que é a discussão das percepções e a busca para a tomada de decisões publicamente.
É um momento difÃcil para a sociedade brasileira", avalia o cientista polÃtico e professor da FGV-SP Marco Antonio Carvalho Teixeira, em entrevista ao Broadcast PolÃtico. Com toda essa polarização, com foco na corrida presidencial, ele lamenta a falta de discussão para as eleições que irão definir a composição do poder legislativo no PaÃs. "A agenda do executivo tomou conta", destacou.
Sobre as eleições para o legislativo, Carvalho Teixeira não aposta que o PL, partido do presidente Bolsonaro, irá fazer uma grande bancada no Congresso Nacional, como prevê alguns analistas. Segundo ele, em 2018 o presidente puxou uma grande bancada na esteira de sua então popularidade e no discurso do "candidato antissistema", que o alçou ao Palácio do Planalto. Em contrapartida, nessas eleições o mandatário vive um grande desgaste, incluindo a perda de antigos aliados. Outra incógnita sobre o pleito legislativo passa pela novidade das federações, que aproximou legendas com afinidades.
Com relação à s eleições para os governos estaduais, o professor da FGV-SP diz que elas podem trazer algumas surpresas, pela competitividade e força dos padrinhos polÃticos. E em alguns Estados, a disputa segue dividida basicamente entre apoiadores do atual presidente e de Lula, os dois presidenciáveis que polarizam a atual corrida ao Palácio do Planalto. Com este cenário, Carvalho Teixeira destaca que só o abrir das urnas vai mostrar quais colorações estarão em pauta no novo desenho polÃtico do PaÃs, tanto nos cargos majoritários quanto no poder legislativo.
Segurança. A preocupação com o clima de tensão, violência, embates e questionamentos que tomou conta dessas eleições levou o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, a fazer um apelo para que todos votem com "paz, segurança, harmonia, respeito, liberdade, consciência e responsabilidade".
Em suas redes sociais, o ministro pediu que, juntos, todas as brasileiras e brasileiros celebrem a grande festa da democracia, ou seja, as eleições gerais de 2022. A mesma preocupação fez com que a segurança dessas eleições fosse reforçada, com drones e com a participação maior das Forças Armadas, PolÃcia Federal, PolÃcia Rodoviária Federal, Abin e um contingente de quase 200 mil policiais. O Estado que vai contar com o maior contingente é o Rio de Janeiro, onde as Forças Armadas devem estar presentes em 167 localidades de várias zonas eleitorais.
Exterior. O crescimento do eleitorado também se fez presente no exterior. Nessas eleições, 697 mil brasileiros residentes fora do PaÃs estão aptos a votar, um contingente de quase 40% a mais do que nas eleições gerais de 2018. No exterior, pode-se votar apenas para presidente da República.
O Tribunal Superior Eleitoral autorizou para as eleições 2022, a pedido do Ministério das Relações Exteriores, postos de votação fora da sede das embaixadas e repartições consulares em 21 paÃses e em mais de 180 cidades estrangeiras. Lisboa é a cidade com maior quantidade de eleitores brasileiros: 45,2 mil. Miami e Boston, cidades norte-americanas, contam com 40,1 mil e 37,1 mil eleitores, respectivamente. Nagoia, no Japão, tem 35,6 mil e Londres, na Inglaterra, 34,4 mil. Como no Brasil, as mulheres também são maioria do eleitorado no exterior, totalizando 58,54%.
Votação. O número de seções eleitorais também cresceu, passando de 454.499 em 2018 para 496.512 neste ano, mais de 42 mil novos locais de votação. As urnas eletrônicas foram ligadas à s 7h, pelo horário de BrasÃlia, em cada uma das 496,5 mil seções eleitorais espalhadas pelos 5.570 municÃpios do PaÃs.
Pela unificação do horário, no Acre as urnas foram ligadas à s 5h, pois a votação começou à s 6h e segue até 15h (17h horário de BrasÃlia). A ordem de votação neste 2 de outubro é a seguinte: deputado federal, com quatro dÃgitos, deputado estadual ou distrital, com cinco dÃgitos, senador, com três dÃgitos, governador e presidente, ambos com dois dÃgitos. O eleitor pode levar uma cola com o número de seus candidatos, só não pode entrar com celular na cabine de votação.
Armas. Nessas eleições, o TSE endureceu as regras com o porte de armas. Com base nisso, está proibido que pessoas portando armas de fogo - sejam elas civis, mesmo que tenham porte de arma, ou integrantes das forças de segurança que não estejam em serviço junto à Justiça Eleitoral - se aproximem a menos de 100 metros das seções de votação.
A exceção é apenas para agentes de segurança, que em atividade geral de policiamento no dia das eleições, forem votar. Também estão proibidos o transporte e a posse de armas pelos Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores (CACs) na véspera, no dia e no pós-eleição.
Com um cenário polarizado, o clima de tensão no ar e a indefinição se a corrida presidencial terminará ou não neste domingo, os eleitores brasileiros vão à s urnas sem saber quais forças polÃticas estarão comandando o destino do nosso PaÃs pelos próximos quatro anos.
Essa é uma eleição que tem fatos inusitados também, como por exemplo, a primeira no perÃodo pós-redemocratização do PaÃs na qual um mandatário que concorre à reeleição ao Palácio do Planalto não está na liderança das pesquisas de intenção de voto e tem a probabilidade de perder o pleito, inclusive no primeiro turno. Mesmo com várias incógnitas, uma coisa é certa, na avaliação de analistas e cientistas polÃticos: independentemente do resultado das urnas, o Brasil deve continuar polarizado entre esquerda e direita, centrado nas lideranças que dominaram a corrida presidencial até este momento: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
Fonte: Estadão Conteúdo