19/01/2023 19h10
PF vai investigar se Bolsonaro interferiu em operações que atingiriam filhos
A PolÃcia Federal vai apurar, em procedimentos internos, se houve pressão do ex-presidente Jair Bolsonaro para aliviar investigações de familiares e pessoas ligadas a ele durante seu mandato. Segundo apurou o Estadão, procedimentos internos serão instaurados para avaliar se houve da parte de policiais omissões ou ações deliberadas para alterar investigações sensÃveis ao Palácio do Planalto nos últimos quatro anos.
Bolsonaro trocou o diretor-geral da PF quatro vezes durante seu mandato, um procedimento incomum. Ocuparam o cargo os delegados federais MaurÃcio Valeixo, Rolando de Souza, Paulo Maiurino e, por último, Márcio Nunes. O ex-presidente chegou a ser impedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de nomear Alexandre Ramagem para a direção da PF por suspeitas de que ele seria nomeado para interferir em investigações.
Um dos primeiros atos do novo chefe da PF, delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, foi trocar 18 superintendentes nos estados. Entre elas, a do Rio de Janeiro, reduto polÃtico de Bolsonaro e onde ele promoveu várias substituições nomeando pessoas de sua confiança em cargos que deveriam ser técnicos.
Bolsonaro foi investigado pela PF por divulgação de notÃcia falsa relacionando a vacina contra a covid à contaminação pelo HIV. O ex-presidente também foi alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), em 2020, por suspeita de interferência polÃtica na PF, após a saÃda do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.
Ao deixar o cargo, Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente no comando da instituição para obter acesso a informações sigilosas e relatórios de inteligência. Na ocasião, o então diretor-geral Mauricio Valeixo havia sido demitido por Bolsonaro acusado de não repassar a ele informações sigilosas. Na avaliação de Moro, a interferência polÃtica poderia levar a "relações impróprias" entre o diretor da PF e o presidente da República.
A saÃda de Moro ocorreu dias após uma reunião ministerial na qual Bolsonaro vociferou. "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f** minha famÃlia toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura", disse. "Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira."
As ameaças foram cumpridas. O delegado Hugo de Barros Correa, que havia sido superintendente da PolÃcia Federal no DF, foi removido para uma função burocrática após atuar no inquérito das fake news e investigar Jair Renan, quarto filho de Bolsonaro.
A delegada Silvia Amelia da Fonseca, que deu andamento ao processo de extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos foi exonerada da diretoria do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação JurÃdica Internacional (DRCI).
O delegado Franco Perazzoni, que conduziu a operação que mirou o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, teve seu nome barrado para assumir a chefia do combate ao crime organizado. O ex-superintendente da PF no Amazonas Alexandre Saraiva foi exonerado após acusar Salles de crime ambiental.
Novo diretor-geral
Após a mudança de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu o delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues para comandar a PF. O novo chefe da PF foi o responsável pela segurança do petista na campanha eleitoral. Depois da eleição, foi escalado para o Grupo de Trabalho de Justiça e Segurança Pública e coordenou o Grupo de Trabalho de Inteligência Estratégica.
O governo nomeou nesta quarta novas chefias para 18 unidades da PF nos Estados. Os delegados Rogério Giampaoli e Leandro Almada da Costa são os novos superintendentes de São Paulo e Rio, respectivamente. As delegadas Larissa Freitas Carlos Perdigão, no Rio Grande do Nortes, Marcela Rodrigues de Siqueira Vicente, em Goiás, e Tatiana Alves Torres, em Minas Gerais, também tiveram seus nomes publicados no Diário Oficial da União.
O ex-ministro Anderson Torres, que é delegado da PF, reassumiu a função de secretário de Segurança do Distrito Federal assim que Lula tomou posse. Após os atos de vandalismo na capital no dia 8 de janeiro, Torres teve a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes. Torres, que estava nos Estados Unidos, voltou ao PaÃs e está preso.
Na mesma edição, foram dispensados 26 chefes de superintendências da PolÃcia Rodoviária Federal nos Estados e no Distrito Federal. Apenas o Piauà não teve o comando dispensado nesta quarta. Os nomes dos substitutos não foram publicados. Silvinei Vasques, o diretor da PRF na gestão Bolsonaro, foi acusado de agir para impedir que eleitores de Lula conseguissem votar promovendo do segundo turno da eleição presidencial uma fiscalização em ônibus de eleitores do petista.
O ex-presidente Bolsonaro está em Orlando e a reportagem não conseguiu contato com sua assessoria.
Fonte: Estadão Conteúdo