25/02/2017 10h09
Rede de Bolsonaro na teia do motim
Um grupo polÃtico ligado ao deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) esteve na linha de frente da comunicação e da logÃstica do motim que parou a PolÃcia Militar do EspÃrito Santo no inÃcio deste mês, segundo levantamento do Estado em conjunto com uma equipe de especialistas em redes sociais. Entre os nomes que constam desta rede de apoio estão o ex-deputado federal Capitão Assumção e o deputado federal Carlos Manato (SD-ES), aliados de Bolsonaro no Estado.
A PolÃcia Federal investiga a origem do movimento, que durou do dia 4 até 14 de fevereiro, perÃodo em que ocorreram 181 homicÃdios na Grande Vitória e em cidades do interior. Um relatório parcial da PF, de 17 de fevereiro, ao qual a reportagem teve acesso, cita os nomes de Assumção, de Manato e de assessores. O documento alerta para a possibilidade de falta de policiais nas ruas de Vitória durante o carnaval. A paralisação dos militares é considerada ilegal e mais de mil agentes da corporação estão sendo processados.
O Estado identificou uma intensa troca de mensagens entre pessoas ligadas ao grupo, influente na PM capixaba, corporação que agrega 10 mil homens. O levantamento coletou informações produzidas por internautas e rastreou as interações de pessoas e entidades. Para isso, teve a ajuda de uma equipe formada por mestres e doutores nas áreas de Sociologia e Comunicação Digital.
Recorde
Publicações do próprio Bolsonaro atingiram recordes de visualizações nos dez dias de paralisação. Apenas um vÃdeo divulgado pelo deputado no dia 6 de fevereiro, terceiro dia do motim, foi visualizado por 2 milhões de pessoas. Nele, Bolsonaro critica o governo do Estado, defende a polÃcia, alerta para a possibilidade de o movimento se espalhar para outros Estados e faz propaganda do nome do Capitão Assumção, que, segundo aliados, almeja voltar à Câmara em 2018.
Atuação. A movimentação na internet antecede a presença massiva de familiares dos policiais na frente dos batalhões da PolÃcia Militar, um cenário que ganhou corpo a partir da manhã do sábado, dia 4. No dia anterior, sexta-feira, o ex-deputado Capitão Assumção, braço direito de Bolsonaro no debate de segurança pública na Câmara entre 2009 e 2011, divulgou no Facebook uma lista de reivindicações da categoria e as primeiras imagens de mulheres que faziam protesto na frente de um batalhão no municÃpio da Serra.
"Já que os militares não podem se manifestar, os familiares estão fazendo por eles", escreveu. O post teve quase 300 mil compartilhamentos. O ex-deputado usa foto de Bolsonaro na capa da conta no Facebook. Procurado desde a terça-feira, Assumção não foi localizado.
Na noite do mesmo dia, véspera do inÃcio do motim, o empresário Walter Matias Lopes, militar desligado da polÃcia, alertou seus seguidores: "Amanhã a PolÃcia Militar vai parar. Pior Salário do Brasil". Em seguida, convocou: "Você, admirador da PolÃcia Militar, está convidado para participar do movimento amanhã". Matias é companheiro de Izabella Renata Andrade Costa, funcionária comissionada do gabinete de Carlos Manato, que é pré-candidato ao governo do EspÃrito Santo com o argumento de que, assim, dará palanque a Bolsonaro.
Além de também incentivar a manifestação, Izabella engrossou as fileiras em frente aos quartéis e ajudou a distribuir alimentos à s mulheres, segundo publicou em sua conta no Facebook. Na manhã de sábado, divulgou vÃdeo de "transmissão ao vivo" do protesto.
Marido de Izabella, Matias Lopes também tem pretensões eleitorais em 2018. Quer tentar uma cadeira na Assembleia Legislativa. Ao Estado, disse que foi apenas um "espectador". "Não sou lÃder nem cabeça de movimento. Nem eu nem a Izabella", afirmou, referindo-se à sua companheira. "Estou servindo apenas de mediador de um conflito." Logo após a conversa, Matias e Izabella limparam as mensagens publicadas no Facebook.
Questionado sobre as publicações disseminadas pelas redes sociais, o governo do EspÃrito Santo informou que tem procurado identificar a dimensão do uso polÃtico antes, durante e depois do motim e que fez alerta à s forças federais.
Ao vivo
A reportagem procurou Bolsonaro desde terça-feira (21) para comentar as questões relacionadas à crise no EspÃrito Santo e enviou perguntas ao deputado. O deputado, que informou que estava no Rio, não respondeu aos questionamentos e disse que só se manifestaria sobre o assunto ao vivo e desde que a conversa fosse gravada em vÃdeo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo