27/11/2022 09h10
Time de Lula tenta justificar divergências a empresários
Um hotel cinco estrelas no Guarujá (SP) foi o cenário para o encontro de nomes da transição do governo eleito, de Luiz Inácio Lula da Silva, com a classe empresarial. Durante dois dias, aliados do petista tentaram justificar a cacofonia divergente no grupo, enquanto empresários e executivos buscavam maior proximidade com cotados para a Esplanada dos Ministérios.
Braço direito do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) e um dos coordenadores da equipe de transição, Floriano Pesaro usou termos empresariais para tentar explicar as dificuldades enfrentadas em BrasÃlia: "Estamos trocando o CEO desta empresa chamada Brasil", disse.
EmÃdio de Souza (PT-SP), deputado estadual eleito e amigo de Lula, emendou: "Floriano falou que é uma empresa constituÃda para funcionar 50 dias, o problema é que uma empresa, até funcionar redonda, demora um bocado". RuÃdos entre os integrantes têm atrapalhado a articulação da PEC da Transição.
A ideia, disse EmÃdio, é fazer o diagnóstico e traçar o plano para os primeiros cem dias de governo. "Não é uma babel, é a frente que o Brasil precisa neste momento."
A escalação dos participantes incluiu o economista Gabriel GalÃpolo, o médico Roberto Kalil, os advogados Marco Aurélio Carvalho, Cristiano Zanin e Pierpaolo Bottini, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e o presidente do PSD, Gilberto Kassab.
Dividiram os corredores com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Para evitar o que aconteceu em Nova York, quando ministros foram hostilizados por bolsonaristas, a calçada do hotel foi protegida por grades.
Guinada
Organizado pelo Esfera Brasil, think tank fundado pelo empresário João Camargo e atualmente comandado por sua filha, Camila, o evento mostrou a virada no posicionamento de parte da classe empresarial após a vitória de Lula. Considerado mais alinhado ao presidente Jair Bolsonaro, Camargo pediu, no palco, que empresários se juntem a ele para aplaudir os representantes do governo Lula. "A eleição foi democrática, ganhou honestamente, nós temos de apoiar."
O novo momento da polÃtica nacional permitiu a realização de uma conferência na qual as crÃticas à Operação Lava Jato dominaram o debate. Coube ao ministro do STF LuÃs Roberto Barroso levantar um óbice ao tom crÃtico do painel. Depois de ouvir de Zanin, que defendeu Lula, que a investigação tornou o sistema jurÃdico brasileiro instável, o ministro rebateu: "Não há segurança jurÃdica num quadro de corrupção sistêmica e institucionalizada. Precisamos enfrentar a naturalização das coisas erradas que havia no Brasil".
Outro ministro do STF presente, Ricardo Lewandowski chamou a atenção pelo tom polÃtico do discurso e por uma reunião reservada de quase 40 minutos com Alckmin. No pronunciamento público, defendeu a pacificação do PaÃs e se mostrou afinado com os principais pontos dos discursos de Lula. O vice, nome mais aguardado do evento, quase faltou. A decisão de não desistir da viagem ao Guarujá atendeu a um apelo de Lula.
Fonte: Estadão Conteúdo