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13/01/2011 17h44

Ah! Como invejo o passado por José Luiz Ayres

Ah! Como invejo o passado por José Luiz Ayres

Atualmente, nas conversas e nos bate-papos, a predominância dos assuntos – queira ou não – versa sobre violência urbana: seja ela nas grandes ou pequenas cidades. Óbvio que a mídia vem colaborando no dia-a-dia, mostrando esse crescimento avassalador, fazendo com que a paranóia se instale entre nós, a população. Qual de nós não tem um episódio para contar, onde nos vimos como personagens ou tivemos alguém do nosso convívio envolvido?

 

Essa fixação paranóica, a bem da verdade, não vem ocorrendo só agora. Ela já se fazia presente, evidente em algumas raras situações, em décadas passadas, embora fossem casos esporádicos a causar perplexidade ter ocorrido.

 

Recordando meu saudoso pai Luiz sobre um episódio por ele narrado, quando caixeiro viajante, ao final da década de 1930, espantou-se com a confidência do amigo, revelando-lhe que, ultimamente, vinha sendo tomado pelo medo nas viagens de trem.

 

Esse cidadão, de nome Jankiel, de origem judaica e tendo como caixeiro viajante o negócio de compra e venda de jóias, ouro e pedras preciosas, percorrendo o Estado de Minas Gerais, tornou-se muito conhecido, principalmente junto aos ramais ferroviários, tal a simpatia exposta e em cujo sorriso estava sempre presente naquela pequena e franzina figura a cativar e fazer amigos por onde passava.

 

Numa ocasião, Luiz encontra-se com Jankiel e seguem embarcados à cidade de Alfenas. Durante a viagem, calado e taciturno, prática incomum no judeu, mostrava-se um tanto apreensivo o que, surpreso, obrigou Luiz a saber o porquê de sua conduta estranha. Respondendo quase num sussurro, disse que vinha sendo dominado pelo medo nas viagens de ser roubado, pois soube que salteadores estavam assaltando os trens. Abrindo seu paletó, mostrou-lhe então várias cartelas de jóias, as quais sacou dos bolsos entregando-as a Luiz que se assustou com aquele procedimento e negou-se em aceitar. Embora relutasse em atendê-lo, acabou convencido por Jankiel, ao argumentar por ser um homem jovem, alto e forte, de compleição física atlética, o que intimidaria um suposto ladrão. Estarrecido a achá-lo que não estava bem de saúde pelo comportamento desatinado, procurou dissuadi-lo daquela absurdez, argumentando ser impossível tal acontecer. Só que como agravante, o deu instruções à entregar uma das cartelas ao chefe da estação de Alfenas, pois resolveu baldear em Soledade à cidade de Três Corações e, por isso, levasse as demais consigo. Embora contrariado, Luiz aceitou a incumbência bem preocupado; não pela possibilidade de roubo, mas sim na falta de alguma das jóias que, relacionadas, por acaso ali não estivesse, e cumpriu enfim as recomendações. Alguns dias depois, Jankiel chega ao hotel em que Luiz se hospedara e, com a peculiar simpatia, conta que tudo ocorreu bem, mesmo revelando que a cartela só lhe fora entregue em Elói Mendes, após ser passada de mão em mão pelos maquinistas dos trens até o destino. Atônito, ao ouvir o relato, Luiz se assustou e retrucou ao judeu:

 

– Ué e a paranóia sobre roubos?

 

Sorrindo, o judeu lhe entregou um pacote em papel jornal, que se recusou a receber. Mas obrigando-o a recebê-lo, pediu que o abrisse, pois comeriam no almoço. Ao abri-lo, estavam linguiças e duas cartelas de jóias. Sem que Luiz dissesse algo foi logo dizendo:

 

– As cartelas ficam com você! Vamos almoçar?

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