Foto:Arquivo Pessoal do Maestro José Henrique Martins
Integrantes do Coral durante a apresentação que ocorreu na Igreja Matriz de São Lourenço
Por Mariana Menezes
Há 10 anos, o Coral Vozes da Cela, de São Lourenço-MG, vem emocionando e recebendo aplausos por onde passa.
Formado, exclusivamente, por homens em cumprimento de pena nos regimes aberto e semiaberto, do Presídio de São Lourenço, o grupo foi criado no dia 18 de maio de 2008, como atividade extracurricular do projeto de ressocialização na Escola Estadual São Francisco de Assis, instalada dentro do presídio municipal.
As professoras Shirley Rose Almeida e Cláudia Regina Paulino foram as idealizadoras do projeto, o qual recebeu o apoio do maestro e Diretor de Atendimento ao Indivíduo Privado de Liberdade do Presídio de São Lourenço, José Henrique Martins. A autorização da proposta foi deferida pelo Juiz da Vara da Execução Penal e Corregedor do Presídio, Dr. Fábio Garcia Macedo Filho.
Para o maestro José Henrique Martins, que também é o responsável pelos ensaios, o Vozes da Cela promove o encontro dos presos com o mundo da música e os motiva a buscar a ressocialização. Ressalta que o trabalho do Coral estimula a evolução e a participação dos envolvidos nas atividades de reinserção social. “Minha maior alegria, é ver que o projeto deu bons frutos, ajudando a transformar vidas. Isso, realmente nos envolve. Cada aplauso do público, para nós do grupo, é uma vitória”, comemora.
O presídio de São Lourenço possui uma população carcerária de 400 presos aproximadamente. Mas, não são todos os presidiários que podem participar do Coral.
Para participar, não basta apenas talento e boa conduta para ser admitido. Os internos precisam estudar, trabalhar e passar por um processo rigoroso para sua aprovação. É avaliado pelo Conselho Técnico de Classificação e, caso aprovado, o nome dele segue para o juiz que autoriza sua participação.
Os ensaios do Coral são feitos dentro da escola, que também atua como parceira, complementando os conhecimentos necessários para as apresentações, como exemplo, os professores que auxiliam em letras de músicas de outros idiomas, ensinando-lhes o significado e a pronúncia de cada palavra.
No repertório das apresentações, o público encontra músicas de vários segmentos, desde a MPB até o clássico, com arranjos feitos por músicos e diversos maestros voluntários, como é o caso do musicista Pablo Teixeira, e do Maestros Elias Brito da cidade Varginha e Daniel Andrade, de Betim.
O grupo já foi assistido por aproximadamente 20 mil pessoas, em mais de 500 apresentações e foi premiado, na edição 2015, do Prêmio Innovare, que reconhece práticas de qualidade do atendimento da Justiça no Brasil.
A primeira apresentação do grupo foi realizada na Faculdade Victor Hugo, em São Lourenço. E de lá para cá, inúmeras apresentações. O grupo já participou de importantes festivais, como o Festival Internacional de Corais de Belo Horizonte (2008, 2009, 2010), Festival Canta Brasil, Festival Internacional de Corais. Se apresentou para autoridades como o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Ferreira Mendes, e o ex-governador, Antônio Augusto Anastasia (em 2010 e 2012); além de se apresentar na abertura oficial da Conferência Nacional de Secretários de Segurança Pública, realizada em 2009, no Centro de Convenções do Hotel Ouro Minas em Belo Horizonte, e em espaços como o Teatro Municipal de Ouro Preto e Teatro Municipal de Sabará, na Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, além de participar de vários eventos sociais e religiosos na cidade e em todo o estado.
Esse ano, para comemorar o décimo aniversário foi feita, em maio, uma grande apresentação na Igreja Matriz de São Lourenço, com a presença especial da soprano Patrícia Vilches, formada pelo Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro, especializada em Ópera Alemã na Universidade de Música e Teatro de Munique e interpretação operística na Ópera da Baviera.
O sucesso do Vozes da Cela vem inspirando outras unidades da Secretaria de Estado de Administração Prisional (SEAP), como o Presídio de Caxambu, exclusivamente feminino, a 30 quilômetros de São Lourenço. Dez mulheres compõem o coral Canto Livre e soltam a voz, também sob a batuta do maestro João Henrique.
Apresentação de comemoração aconteceu na Igreja Matriz
Coral comemorou, em maio, seus 10 anos