Apresentação no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto
O Coral Vozes da Cela de São Lourenço gravou o primeiro CD, no estúdio da Associação Arte Pela Paz, em Belo Horizonte. O coral é composto por 10 reeducandos com idade de 22 a 30 anos. O grupo musical foi criado em maio de 2008, sendo o primeiro do Brasil, como parte de um projeto que buscava levar o interno à sociedade.
O presídio de São Lourenço possui uma população carcerária de 400 presos aproximadamente. De acordo com o regente do grupo, José Henrique Martins, não são todos os presidiários que podem participar do Coral Vozes da Cela. Não basta ter talento e boa conduta para ser admitido no coral. O preso tem que estudar, trabalhar e passar por um processo rigoroso para sua aprovação. O interno é avaliado pelo Conselho Técnico de Classificação e, caso aprovado, o nome dele segue para o juiz que autoriza sua participação.
“Eles são de boa conduta, assertivos e com boas perspectivas de reintegração social. A Unidade Prisional da cidade recebe homens que cumprem regime aberto, semiaberto e fechado. Com isso, os detentos de um regime mais flexível, servem de referência para os outros que estão em um mais restritivo, o que estimula a evolução e participação deles nas atividades de reinserção social”, explica José Henrique Martins.
O julgamento do outro é sempre uma certeza de todos, porém, em um momento de reinserção social, lidar com estes olhares é mais delicado e, por vezes, mais doloroso para um ex-presidiário. O cantor do coral Aislan Cezário, de 28 anos, trabalha com artesanato e estuda na unidade. Ele diz que sente alegria e conforto quando vai para o ensaio e durante as apresentações. “É uma forma de mudar a maneira como somos vistos pela sociedade”, relata.
Atualmente, o estado mineiro tem 160 presídios, sendo que a maioria já possui corais, bandas e aulas de música. Segundo o regente do grupo, José Henrique Martins, a oportunidade foi mais do que ele imaginava. “A gravação superou minhas expectativas. Os presos se dedicaram muito nos ensaios, o que contribuiu para o êxito do grupo”, revela.
Agora o coral planeja dar andamento com as cópias e capas dos Cds, que deverão contar com o apoio do Conselho da Execução Penal do município.
Coral Vozes da Cela
O projeto de ressocialização e humanização foi criado como uma matéria extracurricular dentro da Escola São Francisco de Assis, que funciona dentro do Presídio de São Lourenço. A autorização da proposta foi deferida pelo Juiz da Vara da Execução Penal e Corregedor do Presídio, Dr. Fábio Garcia Macedo Filho.
O Coral Vozes da Cela participa de vários eventos sociais e religiosos na cidade. Já se apresentou por duas vezes para ex-governador do Estado, Antônio Junho Anastasia, e para o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, em Belo Horizonte, além da apresentação no Teatro Municipal de Ouro Preto e Sabará. Ao todo, o Coral conta com mais de quinhentas apresentações.
O projeto ganhou mais visibilidade ao alcançar a etapa final do prêmio Innovare, de 2015, que reconhece e premia práticas que ajudam a melhorar a qualidade e o atendimento da Justiça no Brasil. O Juiz da Vara Criminal de São Lourenço, Fábio Macedo, foi responsável pela inscrição do Coral Vozes da Cela no Prêmio, e acompanha de perto as atividades do grupo musical. “A boa convivência do Judiciário com a direção do sistema prisional é primordial para acelerar o acesso dos presos aos direitos garantidos legalmente”, observa o magistrado.